Ouro dispara com aversão ao risco; dólar cai para R$ 5,37 com diferencial de juros favorável ao Brasil

O ouro encerrou a sessão desta segunda-feira (20/10) em forte alta, impulsionado por uma onda de aversão ao risco que levou os investidores a buscarem a segurança dos metais preciosos.
O movimento foi uma reação a um conjunto de fatores que aumentam a incerteza no cenário global.
Estes incluem a continuidade das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, os temores com as guerras na Europa e no Oriente Médio e o impacto da paralisação ("shutdown") do governo americano, que já está em sua quarta semana.
Fonte: Investing.com
Na Comex, a divisão de metais da bolsa de Nova York, o contrato de ouro para dezembro encerrou com um avanço de 3,46%, a US$ 4.359,4 por onça-troy. A prata também acompanhou o movimento e fechou em alta de 2,55%, a US$ 51,384 por onça-troy.
Após uma pausa na última sexta-feira, os metais preciosos retomaram sua trajetória de alta, com os investidores aumentando suas posições em ativos de proteção, mesmo em um dia de ganhos para os mercados acionários.
Incerteza generalizada sustenta a busca por portos seguros
A análise de mercado aponta para um sentimento de incerteza generalizada como o principal motor para a alta do ouro.
Fatores como a longa paralisação do governo dos EUA, as disputas comerciais com a China e as dúvidas sobre a independência do Federal Reserve (Fed) estão fazendo com que os investidores aumentem seus investimentos no metal precioso como forma de proteção.
A visão de estrategistas do setor é de que o interesse no ouro é uma busca por um hedge estratégico contra as múltiplas frentes de risco que se apresentam no momento. O metal funciona como um "porto seguro em tempos de incerteza política e macroeconômica", e o cenário atual combina os dois.
O cenário geopolítico e as tensões militares
No campo geopolítico, o final de semana foi de novas tensões no Oriente Médio. Israel voltou a bombardear alvos do Hamas, após alegações de que o grupo teria rompido o cessar-fogo que estava em vigor na Faixa de Gaza. A retomada dos conflitos na região aumenta a instabilidade e a busca por ativos de segurança.
Na Europa, a situação da guerra na Ucrânia também contribuiu para o sentimento de cautela. Uma reportagem do Financial Times revelou detalhes de uma reunião tensa entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
A dificuldade no diálogo entre os dois líderes reduziu as expectativas de que um acordo de paz para o conflito possa ser alcançado em breve, o que prolonga a incerteza na região.
Nos Estados Unidos, a paralisação das atividades do governo federal atingiu hoje seu 20º dia, tornando-se a terceira mais longa da história americana.
O impasse político em Washington, que impede a aprovação do orçamento e mantém parte dos serviços públicos federais fechada, gera incerteza sobre a economia do país e contribui para a aversão ao risco.
Apesar da longa duração, há uma expectativa de que o "shutdown" possa estar próximo do fim. O diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos, Kevin Hassett, afirmou que a paralisação deve chegar ao fim ainda nesta semana, uma notícia que, se confirmada, pode trazer algum alívio para os mercados.
Perspectivas para o preço do ouro e o risco de uma correção
Apesar da forte alta e do cenário favorável, analistas alertam para a possibilidade de uma correção de curto prazo no preço do ouro.
A visão é de que, com a forte valorização recente, o mercado está próximo de um movimento de realização de lucros, no qual os investidores que compraram o metal a preços mais baixos decidem vender para embolsar os ganhos. Além disso, os fluxos de capital especulativo também podem gerar volatilidade.
No entanto, a perspectiva de longo prazo para o metal precioso continua otimista. A projeção de algumas corretoras, como a Axi, é de que, apesar de uma possível correção no curto prazo, o ouro pode atingir a faixa de US$ 5.000 por onça-troy no próximo ano, sustentado pela continuidade do cenário de incertezas e pela busca por proteção por parte dos investidores.
Lina Thomas, estrategista de commodities da Goldman Sachs Research, afirmou que o aumento do preço do ouro é mais do que um "hype" momentâneo. "O rali continua baseado em fundamentos, não em frenesi", disse ela.
Embora o ouro seja frequentemente visto como uma proteção que não paga juros ou dividendos, ele brilha em tempos de incerteza econômica como um ativo de porto seguro, por ser uma commodity finita com um alto valor atribuído.
A febre do ouro levou até mesmo céticos de Wall Street a mudarem de opinião. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, que normalmente não compra ouro, admitiu recentemente que "esta é uma das poucas vezes na minha vida em que é semirracional ter algum [ouro] em seu portfólio".
Dólar tem quarta queda seguida e fecha abaixo de R$ 5,40
O dólar seguiu se ajustando em baixa nesta segunda-feira e emplacou a quarta queda consecutiva no Brasil, fechando abaixo dos R$ 5,40, após ter oscilado acima dos R$ 5,50 em sessões recentes. Em um dia no geral positivo para os ativos brasileiros, o dólar à vista encerrou com baixa de 0,67%, aos R$ 5,3704.
No exterior, a moeda norte-americana tinha sinais mistos ante as demais divisas de países emergentes. No ano, o dólar acumula uma queda de 13,09% em relação ao real.
Fonte: Google Finance
A moeda americana engatou perdas desde o início da sessão, refletindo em grande parte o diferencial de juros favorável ao país. "O mercado já comprou dois cortes de juros nos Estados Unidos este ano. Ele está convicto de que haverá corte de juros, e isso impacta o diferencial de juros", comentou um analista.
Com a expectativa de juros mais baixos nos EUA e a manutenção da taxa Selic em 15% no Brasil, o diferencial tem atraído dólares para o país. Na mínima do dia, o dólar à vista foi cotado a R$ 5,3668.
Apesar do alívio recente, a avaliação é de que o movimento pode ser temporário, especialmente diante da volatilidade nos títulos do Tesouro americano e das incertezas quanto ao cenário fiscal doméstico. Um dos receios do mercado é o de que, visando a reeleição em 2026, o governo anuncie mais ações com impacto fiscal, sem contrapartidas claras.
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