Dólar cai para R$ 5,35, menor valor em 15 meses; mercado monitora decisões de juros e tensões com EUA

Pedro Augusto Prazeres
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O dólar completou a terceira sessão consecutiva de queda no mercado de câmbio brasileiro e encerrou a sexta-feira (12) cotado a R$ 5,3464, seu menor valor de fechamento em 15 meses, desde junho de 2024. O movimento de valorização do real ocorreu a despeito de um dia de ganhos para a moeda norte-americana no cenário internacional, mostrando a força de fatores locais e da expectativa em relação à política monetária dos dois países.

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Fonte: Google Finance

A principal tese que tem sustentado a queda do dólar é a perspectiva de que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, inicie um ciclo de cortes de juros nos próximos meses, enquanto o Banco Central do Brasil mantém a taxa básica Selic no patamar elevado de 15%.

Esse aumento no diferencial de juros entre os dois países torna o real mais atraente para investidores estrangeiros, mas o cenário de curto prazo ainda é cercado de incertezas, com o mercado monitorando a repercussão da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e a possibilidade de novas retaliações por parte do governo americano.

A dinâmica do câmbio e a queda na semana

O dólar à vista encerrou a sexta-feira com uma baixa de 0,69%, o que levou a uma queda acumulada de 1,11% na semana. A cotação de fechamento, na casa dos R$ 5,35, não era vista desde 7 de junho do ano passado.

No mercado de derivativos, o contrato de dólar futuro para outubro, o mais líquido no momento, também operava em queda de 0,72%, aos R$ 5,3760, sinalizando que a tendência de baixa pode se manter no curto prazo.

A avaliação de agentes de mercado é de que, se o cenário atual se mantiver, a tendência de curto prazo para o dólar é de uma queda em direção ao patamar de R$ 5,30.

O principal motor para essa projeção é o chamado "carry trade", uma estratégia na qual investidores tomam empréstimos em moedas com juros baixos (como o dólar, em um cenário de corte) e aplicam em moedas com juros altos (como o real), lucrando com o diferencial entre as taxas.

Cenário doméstico: condenação de Bolsonaro e melhora na avaliação de Lula

No âmbito interno, o mercado continuou a repercutir os desdobramentos do cenário político. O principal evento da semana foi a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão e à inelegibilidade por oito anos, junto a outros sete réus. A decisão gerou forte repercussão dentro e fora do Brasil.

O governo dos EUA classificou a decisão como uma "caça às bruxas" e o presidente Donald Trump chamou o julgamento de "terrível". Em resposta, o Itamaraty afirmou que o Brasil "não se intimidará".

Apesar da tensão política, a avaliação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva apresentou uma melhora. Uma pesquisa Ipsos-Ipec, publicada na quinta-feira, mostrou que a avaliação positiva do governo avançou de 25% para 30%, enquanto a negativa caiu de 43% para 38%.

A melhora na percepção do governo pode contribuir para reduzir a percepção de risco político no país, o que tende a favorecer a moeda brasileira.

Dados do setor de serviços e a visão para a economia

No campo econômico, o IBGE divulgou nesta sexta-feira o desempenho do setor de serviços em julho. O volume do setor subiu 0,3% no sétimo mês do ano em comparação com junho. O resultado veio um pouco abaixo da mediana das estimativas do mercado, que era de uma alta de 0,4%, mas ainda assim representou o 16º resultado positivo consecutivo na comparação anual, com um avanço de 2,8%.

Para analistas, no âmbito doméstico, a condenação do ex-presidente Bolsonaro pelo STF torna o cenário eleitoral de 2026 mais claro, fortalecendo uma potencial candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é bem-vista pelo mercado.

A semana decisiva para a política monetária

Olhando para o curto prazo, a próxima semana será crucial para ditar os rumos do mercado de câmbio, com as decisões de política monetária do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve nos EUA, ambas na quarta-feira. A expectativa geral é de que o Copom mantenha a Selic em 15%, pelo menos até o final do ano.

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Probabilidades do mercado para a decisão de juros do Fed. Fonte: CME FedWatch

Nos Estados Unidos, a perspectiva do início do ciclo de cortes de juros aumenta a atratividade do real, que é uma das moedas com o maior "carry" do mundo. A avaliação do mercado é de que, se o cenário de corte nos EUA se confirmar na próxima semana, a tendência de apreciação do real deve se manter.

Por outro lado, a principal incerteza que pode adicionar volatilidade ao câmbio nos próximos dias é a possibilidade de uma nova medida de retaliação do governo Trump à condenação de Bolsonaro.

Ibovespa fecha semana em queda com realização de lucros e cautela política

Enquanto o dólar se fortalecia com a perspectiva de juros altos no Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão desta sexta-feira com uma queda de 0,61%, aos 142.271,58 pontos.

O movimento foi, em grande parte, de realização de lucros, com os investidores colocando no bolso parte dos ganhos acumulados nos últimos dias, quando o índice atingiu recordes históricos sucessivos. Com o resultado de hoje, a semana terminou com uma variação negativa de 0,26%, a primeira após cinco semanas consecutivas de alta.

A apreensão com a reação dos Estados Unidos à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF foi o principal fator por trás da cautela dos investidores. O mercado teme uma nova rodada de sanções por parte do presidente Donald Trump, com a ampliação da lei Magnitsky e o aumento de tarifas.

O tom mais duro veio do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, que publicou uma ameaça direta em suas redes sociais, afirmando que "os Estados Unidos responderão de forma adequada a essa caça às bruxas".

No cenário corporativo, a mixórdia político-jurídica fez a Vale (VALE3) oscilar e terminar com leve baixa de 0,04%. A Petrobras (PETR4) caiu 0,67%, mesmo com o petróleo em alta.

Os bancos foram os maiores responsáveis pela queda do Ibovespa, com perdas para Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e Santander (SANB11). Apenas o Banco do Brasil (BBAS3) conseguiu fechar em alta. Os varejistas, como o Magazine Luiza (MGLU3), também recuaram.

Isenção de responsabilidade: este artigo representa apenas a opinião do autor e não pode ser usado como consultoria de investimento. O conteúdo do artigo é apenas para referência. Os leitores não devem tomar este artigo como base para investimento. Antes de tomar qualquer decisão de investimento, procure orientação profissional independente para garantir que você entenda os riscos.

 

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