Ações da Ambipar (AMBP3) atingem nova mínima histórica com crise de liquidez; empresa contrata auditoria para rastrear caixa

As ações da Ambipar (AMBP3) atingiram nesta sexta-feira (17) uma nova e dramática mínima histórica de R$ 0,37, registrando uma queda de 15% apenas no pregão de hoje e ampliando as perdas nos últimos 30 dias para impressionantes 97%.
O colapso dos papéis reflete a profunda crise de confiança do mercado em relação à companhia, com os investidores cada vez mais atentos à possibilidade de um pedido formal de recuperação judicial.
O movimento de venda se intensificou após a notícia de que a empresa comunicou aos seus credores a contratação da FTI Consulting, uma consultoria especializada, para realizar uma auditoria independente de sua posição de caixa.
A medida é uma tentativa de oferecer maior transparência sobre a real situação de liquidez da empresa, em um esforço para acalmar os credores e o mercado. A auditoria também terá como objetivo avaliar em detalhes o contrato de derivativos com o Deutsche Bank, que é apontado como o fator determinante para o início da atual crise financeira.
A contratação da auditoria e a busca por transparência
A decisão de contratar a FTI Consulting é um movimento da Ambipar para tentar restaurar a confiança e esclarecer a aparente contradição entre o caixa bilionário que a empresa reportava em seus balanços e sua súbita e aguda crise de liquidez.
A iniciativa, que foi comunicada aos credores, busca oferecer uma visão externa e independente sobre a real capacidade financeira da companhia de honrar seus compromissos.
A principal tarefa da consultoria será, em primeiro lugar, realizar uma auditoria completa na posição de caixa da Ambipar. Em segundo lugar, a FTI irá analisar detalhadamente o polêmico contrato de derivativos firmado com o Deutsche Bank, que, segundo a própria Ambipar, foi o estopim da crise.
A expectativa é de que a auditoria possa trazer respostas claras sobre a real situação financeira do grupo, um passo que é considerado essencial para o avanço das negociações com os credores.
A origem da crise: a disputa com o Deutsche Bank e o risco de efeito cascata
A crise atual da Ambipar ganhou tração no final do mês passado. No dia 22 de setembro, os títulos de dívida (bonds) da companhia com vencimento em 2031 despencaram no mercado internacional, um sinal de que os grandes investidores já percebiam um aumento no risco de crédito.
Pouco depois, a empresa anunciou sua sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões, uma medida que, em vez de acalmar, aumentou os sinais de alerta no mercado sobre uma possível necessidade urgente de caixa.
O ponto de ruptura veio quando o Deutsche Bank, um dos principais credores da companhia, exigiu um aditivo de US$ 35 milhões em garantias. O grande temor da Ambipar era que essa exigência, que a empresa alega não ter respaldo contratual, pudesse acionar cláusulas de "vencimento cruzado" (cross-default) em seus outros contratos de dívida.
Essa cláusula determina que, se a empresa deixar de honrar uma de suas dívidas, todas as outras dívidas que possuem essa mesma cláusula também vencem antecipadamente, o que poderia acelerar obrigações financeiras em até R$ 10 bilhões, levando a um colapso financeiro. Sem alternativas, a Ambipar recorreu à proteção judicial em setembro, obtendo uma liminar que a protege de seus credores por 30 dias.
O mistério do caixa e a desconfiança dos credores
No centro da desconfiança do mercado está uma aparente e gritante contradição.
Embora a dívida que desencadeou a disputa com o Deutsche Bank fosse de "apenas" R$ 616 milhões, a companhia apresentava em seu balanço do final do segundo trimestre uma posição de caixa de R$ 4,7 bilhões.
Este é um valor que, em tese, seria mais do que suficiente para cobrir os compromissos de curto prazo e evitar uma crise de liquidez.
A questão que paira sobre o mercado, e que a auditoria da FTI Consulting tentará responder, é: onde está esse caixa? Segundo fontes de mercado, os credores estariam tentando rastrear esse caixa reportado pela empresa, mas teriam encontrado apenas uma fração do valor, cerca de US$ 80 milhões (aproximadamente R$ 400 milhões).
Essa discrepância entre o balanço oficial e a realidade percebida pelos credores é o principal motivo para o colapso da confiança e, consequentemente, das ações da companhia.
Um histórico de volatilidade e de questionamentos de governança
O cenário atual de crise não pode ser dissociado do histórico recente da Ambipar, que adiciona uma camada extra de complexidade e desconfiança à situação. Em 2024, as ações da companhia protagonizaram um dos ralis mais explosivos e controversos da bolsa brasileira, saltando de um patamar de R$ 8 em maio para um pico de R$ 268 em dezembro.
O movimento foi impulsionado por uma série de operações de compra de ações pelo controlador da empresa, Tércio Borlenghi Junior, pela entrada de fundos de investidores conhecidos no mercado, como Nelson Tanure e o Banco Master, e por um forte "short squeeze".
Este último, forçou os investidores que apostavam na queda a recomprarem os papéis, acelerando ainda mais a alta.
A volatilidade extrema e os indícios de uma movimentação coordenada levaram a CVM a abrir uma investigação por manipulação de preços. Embora a autarquia tenha, na época, rejeitado a sugestão de sua área técnica de obrigar o controlador a fazer uma oferta pública de aquisição (OPA), o episódio deixou marcas profundas na percepção de risco do mercado em relação à governança da companhia. A crise atual, portanto, ocorre em um terreno já fértil para a desconfiança dos investidores.
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