Powell adota tom cauteloso e dólar dispara com PIB forte dos EUA

Pedro Augusto Prazeres
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Fonte: DepositPhotos

A quarta-feira foi marcada por uma combinação intensa de indicadores econômicos, falas do Federal Reserve e novas tarifas comerciais que mexeram com os mercados globais.

Enquanto Wall Street oscilava, o dólar avançava com força, os rendimentos dos Treasuries subiam e o ouro e o cobre despencavam diante de um ambiente de menor apetite por risco.

O grande destaque do dia veio da decisão do Federal Reserve, que manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, como já era amplamente esperado.

No entanto, a coletiva de imprensa de Jerome Powell reforçou o recado de que o banco central não tem pressa em iniciar cortes na taxa básica, e que as incertezas quanto à inflação continuam pesando nas decisões do Comitê.

Fonte: Investing.com

PIB forte mascara fragilidades, diz Powell

O Produto Interno Bruto dos Estados Unidos cresceu 3% no segundo trimestre em termos anualizados, superando com folga a estimativa de 2,4%.

Apesar do número positivo, Powell alertou que o desempenho foi impulsionado por um salto pontual nas exportações líquidas, o que distorce a leitura da demanda doméstica.

Segundo o presidente do Fed, o indicador de "compras finais privadas domésticas", considerado uma medida mais estável da força da economia, avançou no ritmo mais lento desde 2022.

Isso reforça a avaliação de que, embora o crescimento esteja acelerado na superfície, a economia americana ainda enfrenta riscos, especialmente com o impacto das novas tarifas comerciais impostas pelo governo Trump.

Mercado ajusta apostas para cortes de juros

As falas de Powell tiveram reflexos imediatos nas expectativas de política monetária. Traders reduziram drasticamente as apostas de um corte de juros já em setembro, e os contratos futuros passaram a indicar uma probabilidade maior de redução apenas em dezembro.

Com isso, o rendimento dos Treasuries de curto prazo saltou até 6 pontos-base, enquanto o dólar se fortaleceu frente a moedas globais.

O índice DXY, que mede o desempenho da divisa americana contra uma cesta de moedas, subiu 1% e alcançou o maior patamar em dois meses, a caminho de sua melhor semana em três anos.

Ao mesmo tempo, o euro recuava mais de 2% na semana, caminhando para sua maior perda semanal desde 2021.

Fonte: TradingView

Tarifas de Trump colocam Brasil em posição delicada no comércio global

Enquanto os mercados digeriam os sinais do Federal Reserve, outra frente de tensão ganhava força: o anúncio de novas tarifas dos Estados Unidos contra parceiros comerciais, com destaque para Brasil e Índia.

E, neste cenário, o Brasil pode estar jogando com a pior mão da mesa de negociações, não por razões econômicas, mas políticas.

O governo Trump anunciou que, caso não haja acordo comercial com o Brasil até o final da semana, serão aplicadas tarifas de 50% sobre uma gama de produtos brasileiros. A alíquota é significativamente superior aos 15% negociados com Japão e União Europeia, e só se equipara aos níveis impostos à China em 2018.

O problema, segundo analistas e autoridades brasileiras, é que não há sequer diálogo com Washington. Um funcionário do governo Lula relatou que cartas enviadas à Casa Branca seguem sem resposta. “Estou preocupado”, declarou.

A motivação por trás das tarifas estaria ligada menos ao comércio e mais à política interna dos dois países. O ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump, vem sendo investigado por suposta tentativa de golpe, o que teria irritado o republicano. Em rede social, Trump chegou a escrever: “Deixem Bolsonaro em paz!”

Efeitos para a economia brasileira: empregos, inflação e dívida

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que as tarifas de 50% poderiam cortar pela metade as exportações brasileiras para os EUA, segundo maior parceiro comercial do país, e provocar a perda de mais de 100 mil empregos. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reforça o alerta, destacando os riscos para o agronegócio.

Esse movimento chega em momento frágil para a economia brasileira. O fluxo cambial se tornou negativo em junho e julho, o real perdeu força e os investimentos estrangeiros diretos diminuíram. Como resultado, o déficit em transações correntes chegou a 3,4% do PIB, o dobro do registrado há um ano.

O Banco Central, por sua vez, não tem muito espaço de manobra. Com inflação acima de 5% há seis meses, superando o teto da meta de 4,5%, a Selic foi mantida em 15%, maior patamar em 20 anos. Mas os custos dessa política são elevados: os juros reais do Brasil são os mais altos do G20, em torno de 10%, e pressionam o endividamento público.

Quase metade da dívida do governo está atrelada à Selic, e os juros já somam R$ 1 trilhão por ano, cerca de 7% a 8% do PIB. Só nos seis primeiros meses de 2025, a dívida federal cresceu R$ 567 bilhões, sendo R$ 393 bilhões em pagamentos de juros.

Fonte: Banco Central

Dólar dispara, Wall Street oscila e Microsoft e Meta surpreendem

Na esteira das declarações de Powell e da escalada das tensões comerciais, os mercados globais tiveram um dia movimentado.

O dólar se fortaleceu com intensidade, os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano avançaram e os índices acionários oscilaram diante de resultados mistos e incertezas sobre o rumo da política monetária.

Esse movimento reflete a leitura dos investidores de que o Fed manterá os juros elevados por mais tempo, especialmente diante da resiliência da economia americana e da postura cautelosa de Powell quanto aos cortes.

Juros dos Treasuries sobem e jogam contra as ações

As taxas dos títulos do Tesouro dos EUA subiram em toda a curva, com destaque para o vencimento de curto prazo, que avançou 6 pontos-base. Essa alta reflete o adiamento nas apostas de corte de juros: o mercado agora espera um movimento apenas em dezembro.

Como consequência, os índices de ações em Wall Street perderam força. O Dow Jones caiu 0,4%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq fecharam praticamente estáveis. O impulso do início do dia foi anulado pelo movimento nos juros e pela força do dólar, o que afeta empresas exportadoras e o apetite por ativos de risco.

Fonte: Investing.com

Microsoft e Meta animam o pós-mercado com resultados sólidos

Apesar da cautela no pregão regular, o clima foi mais otimista no after-hours, com os resultados trimestrais de Microsoft e Meta. Ambas surpreenderam positivamente:

  • Microsoft subiu 6% no after após divulgar resultados acima das expectativas, puxados por sua divisão de nuvem e investimentos em inteligência artificial.

  • Meta saltou 10% fora do horário regular, após reportar forte crescimento em receita publicitária e usuários ativos.

Esses números reforçam o peso que os balanços de gigantes da tecnologia têm sobre os índices, especialmente o Nasdaq.

O mercado agora aguarda os próximos capítulos: Apple e Amazon divulgam seus resultados na quinta-feira, e podem ditar o tom do encerramento da semana para os ativos de risco.

Commodities derretem com tarifas e dólar forte

Enquanto os investidores digeriam a postura firme do Fed e os resultados corporativos de gigantes da tecnologia, o mercado de commodities foi duramente impactado por dois fatores principais: a imposição de novas tarifas comerciais por parte dos EUA e o fortalecimento expressivo do dólar. O resultado foi uma onda de liquidação que atingiu desde o cobre até o ouro e a platina.

O cobre, considerado um termômetro da atividade econômica global, despencou quase 20% na Comex após a Casa Branca anunciar uma tarifa de 25% sobre as importações do metal. A medida faz parte do pacote de tarifas anunciado por Donald Trump contra Índia, Brasil e outros países, elevando a tensão comercial e pressionando cadeias de produção globais.

A queda brusca do cobre levanta preocupações sobre o ritmo de recuperação econômica, especialmente em setores industriais e de construção civil, altamente dependentes do insumo.

Ouro e platina também sofrem

  • O ouro caiu 3%, pressionado tanto pelo dólar mais forte quanto pela menor expectativa de cortes de juros nos EUA. Como ativo de proteção, o ouro tende a perder atratividade quando os rendimentos reais dos títulos americanos sobem.

  • A platina recuou 6%, seguindo o mesmo movimento do ouro e do cobre, em meio ao sentimento mais avesso ao risco entre os investidores.

Isenção de responsabilidade: este artigo representa apenas a opinião do autor e não pode ser usado como consultoria de investimento. O conteúdo do artigo é apenas para referência. Os leitores não devem tomar este artigo como base para investimento. Antes de tomar qualquer decisão de investimento, procure orientação profissional independente para garantir que você entenda os riscos.

 

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