Ibovespa vai do recorde ao caos e desaba 4,3% com risco político; dólar dispara

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O Ibovespa atravessou uma sexta-feira que ficará marcada como um daqueles pregões em que o humor do mercado vira de forma tão abrupta que parece ficção. O índice iniciou o dia com euforia, bateu recorde e chegou muito perto de consolidar uma semana de forte otimismo.

Só que a tarde trouxe uma guinada completa. A sensação entre investidores foi a de assistir a um castelo subindo pela manhã e desmoronando horas depois, sem tempo para processar a mudança.

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Fonte: Google Finance

No início do pregão, o clima ainda era de confiança. O índice superou os 165 mil pontos pela primeira vez na história, sustentado por expectativas positivas sobre juros, cenário externo benigno e um sentimento de que o mercado doméstico havia recuperado tração.

Esse avanço parecia confirmar um movimento mais estrutural de retomada. Mas a calmaria não durou. A partir do início da tarde, notícias políticas ganharam força e transformaram o ambiente de forma quase instantânea.

O Ibovespa terminou o dia em queda de 4,31%, aos 157.369,36 pontos. Um tombo acima de 4% não acontecia desde fevereiro de 2021 e, pela violência do movimento, ficou claro que o mercado não estava apenas realizando lucros.

A intensidade da reação revelou um reposicionamento amplo, motivado por incertezas que ultrapassaram qualquer ruído pontual. O índice devolveu todos os ganhos da semana, revertendo o saldo acumulado para queda de 1,07%.

Ameaça ao "Trade Tarcísio" e o risco fiscal

O gatilho para a reviravolta veio da política. Informações sobre a possível candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, com apoio explícito de seu pai, tiveram impacto imediato.

Esse movimento pegou o mercado de surpresa porque desmontava uma narrativa que vinha sendo construída há meses. A expectativa dominante era de que Tarcísio de Freitas consolidaria sua posição como candidato natural da direita.

A entrada de Flávio no cenário altera esse cálculo. Se a base bolsonarista concentrar apoio em torno dele, Tarcísio perde espaço e pode ser empurrado para a reeleição em São Paulo.

Isso muda completamente a leitura do mercado. Uma disputa presidencial menos moderada aumenta incertezas sobre governabilidade futura, reformas e condução fiscal.

O receio central não é sobre 2024 ou 2025, mas sobre como o país pode chegar a 2027 sem uma âncora fiscal clara e sem um ambiente político favorável a ajustes. Essa mudança de expectativa foi suficiente para uma reprecificação agressiva.

Cíclicos caem com DIs; bancos perdem R$ 50 bilhões

Os juros futuros reagiram de forma imediata. A curva de Depósito Interfinanceiro saltou mais de 40 pontos base e refletiu o aumento do prêmio de risco país.

Quando a curva sobe com essa intensidade, todo o mercado de renda variável sofre, mas ações cíclicas, ligadas ao crédito e ao consumo, são as primeiras a sentir o impacto.

Yduqs, Cyrela e Azzas 2154 despencaram mais de 10%. A queda da Azzas foi ainda mais forte devido a um block trade do fundo canadense CPPIB, que liquidou sua participação.

O setor bancário, que normalmente funciona como porto seguro em períodos de volatilidade moderada, também não escapou. A deterioração rápida do cenário doméstico levou os grandes bancos a perderem cerca de R$ 50 bilhões em valor de mercado.

A mensagem implícita era clara: o risco político estava sendo precificado de forma mais dura e atingia até aqueles setores que costumam amortecer choques.

Exportadoras e Braskem escapam da queda

Entre as poucas exceções do dia, quatro ações conseguiram escapar do movimento negativo. WEG, Suzano e Klabin se beneficiaram da disparada do dólar, que age como proteção natural para empresas cuja receita tem forte componente externo.

A Braskem também fechou em alta, sustentada por novos sinais de que sua situação societária pode ser resolvida.

Magda Chambriard, presidente da Petrobras, afirmou que o tema está avançando e que há progresso nas negociações entre os acionistas, o que reforçou a percepção de que uma solução pode estar próxima.

Estatais sofrem mais e analistas falam em fim da via central

Se o dia já havia sido negativo para a maioria das empresas, o impacto foi ainda maior para as estatais. Petrobras e Banco do Brasil perderam cerca de R$ 27 bilhões em conjunto.

Essas empresas são mais sensíveis a mudanças na percepção de risco político, e o enfraquecimento do chamado "Trade Tarcísio" tirou do mercado a aposta em uma alternativa mais moderada para 2026.

Analistas como Danilo Coelho destacaram que a expectativa era de um candidato capaz de atrair apoio ao centro, o que facilitaria a implementação de uma agenda fiscal mais equilibrada.

A possível volta de uma disputa polarizada faz o mercado enxergar um horizonte mais difícil para reformas e para a manutenção de um arcabouço fiscal confiável. Essa mudança atingiu diretamente o valuation das estatais.

Exterior segue em alta; Dólar dispara 2,3%

Enquanto o Brasil enfrentava um dia de caos, o cenário externo mostrou firmeza. Os principais índices americanos subiram após a divulgação do índice PCE, a medida de inflação preferida do Federal Reserve.

O núcleo avançou 0,2%, em linha com as expectativas, e reforçou a possibilidade de corte de juros na próxima semana. Segundo a ferramenta FedWatch, há mais de 87% de chance de uma redução de 0,25 ponto em dezembro.

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A fuga para proteção ficou evidente no câmbio. O dólar à vista disparou 2,31% e encostou em R$ 5,47 no momento mais tenso do dia.

A percepção de que a disputa eleitoral pode ficar mais acirrada e reduzir a probabilidade de avanços econômicos levou investidores a desmontar rapidamente posições compradas em real.

O movimento foi reforçado pelo cenário externo, que também vive discussões sobre a sucessão no Fed e a possibilidade de Kevin Hassett substituir Jerome Powell, o que adicionou volatilidade ao dólar globalmente.

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