Ações da Cosan (CSAN3) despencam com aporte de R$ 10 bilhões

As ações da Cosan (CSAN3) iniciaram a semana em forte queda, despencando mais de 18% no pregão desta segunda-feira (22). A volatilidade foi tão intensa que os papéis da holding entraram em leilão após atingirem o limite de oscilação permitido pela B3, um mecanismo que é acionado para equilibrar as ordens de compra e venda em momentos de movimentos muito bruscos de preço.
Fonte: Google Finance
A reação negativa do mercado ocorreu após a companhia anunciar uma operação que, à primeira vista, seria positiva: um aporte de capital de R$ 10 bilhões, que será realizado por um grande banco de investimento, o BTG Pactual Holding & Asset Management, e pela gestora de investimentos Perfin.
No entanto, a forma como a operação foi estruturada, por meio de uma oferta primária de ações com um preço por papel bem abaixo do valor de mercado, gerou um forte movimento de venda, com os investidores ajustando suas posições ao novo cenário de diluição. O episódio ilustra um paradoxo comum no mercado de capitais: uma medida necessária e estrategicamente importante para a saúde financeira de uma empresa no longo prazo pode ter um impacto extremamente negativo no preço da ação no curto prazo, especialmente para os acionistas que já estavam posicionados.
Entenda a reação negativa do mercado à operação
Apesar de o aporte de R$ 10 bilhões ter como objetivo fortalecer a estrutura de capital da Cosan e reduzir seu endividamento, a reação negativa do mercado se deve à forma como a injeção de recursos será feita.
A operação se dará por meio de uma oferta primária de ações, o que significa que a companhia emitirá novas ações que serão compradas pelos novos sócios. Esse aumento no número total de ações da empresa resulta em uma diluição da participação dos acionistas atuais, pois cada ação passa a representar uma fatia menor do capital total da companhia.
O principal fator que levou à queda brusca das ações, no entanto, foi o preço definido para a primeira parte da oferta. O acordo prevê duas ofertas subsequentes de ações, conhecidas como "follow-on".
A primeira, que movimentará R$ 7,25 bilhões, foi definida a um preço por ação de R$ 5. Esse valor, consideravelmente abaixo da cotação anterior dos papéis, levou o mercado a um rápido e intenso reajuste de preço, fazendo com que o valor da ação na bolsa despencasse para se aproximar do valor que será pago pelos novos investidores. Essencialmente, o mercado está precificando a diluição e o novo valor de referência estabelecido pela transação.
A mecânica desse ajuste é quase instantânea: sabendo que um grande volume de novas ações entrará no mercado a um preço muito mais baixo, os investidores atuais correm para vender seus papéis antes que a oferta se concretize, antecipando a queda e, ao mesmo tempo, acelerando-a.
Os detalhes do aporte de R$ 10 bilhões
O acordo, que prevê um aporte total de R$ 10 bilhões, foi estruturado em duas etapas. A primeira, como mencionado, será um follow-on de R$ 7,25 bilhões a um preço fixo de R$ 5 por ação.
A segunda etapa será uma oferta de R$ 1,8 bilhão, cujo valor por ação será definido no dia 30 de outubro. Os recursos captados na oferta primária irão diretamente para o caixa da empresa, com um objetivo claro: o fortalecimento de sua estrutura de capital.
Segundo a Cosan, a operação reduzirá em 57% o endividamento da companhia. A empresa fechou o ano anterior com um endividamento de R$ 23,5 bilhões e um prejuízo de R$ 9,4 bilhões, um cenário que tornava a busca por capital uma necessidade urgente para garantir a saúde financeira do grupo.
A Cosan fez questão de destacar que os valores captados não serão destinados à Raízen (RAIZ4), empresa controlada pelo grupo, mas sim para o equacionamento do balanço da própria holding. A transação também contou com a participação dos family offices Aguassanta e Queluz, que são ligados à família do controlador Rubens Ometto.
Estrutura de controle e governança após o acordo
Mesmo com a entrada dos novos e relevantes sócios, o controle da companhia permanecerá nas mãos de Rubens Ometto, que seguirá como sócio majoritário, com 50,01% das ações ordinárias (com direito a voto).
Além de manter o controle, Ometto também permanecerá como presidente do Conselho de Administração da Cosan por, no mínimo, mais três mandatos, o que equivale a um período de seis anos.
Rubens Ometto. Foto: Divulgação
Com a entrada dos novos parceiros, eles, em conjunto com Ometto, passarão a deter, ao todo, 55% do capital social da companhia.
O acordo também estabelece cláusulas de "lock-up", que são períodos nos quais os investidores se comprometem a não vender suas ações. Foi estabelecido um período de lock-up de quatro anos para parte das ações que fazem parte do acordo.
Já os acionistas minoritários que aderirem à oferta de ações não poderão vender metade das ações que adquirirem por um período de dois anos. Essas cláusulas sinalizam um compromisso de longo prazo por parte dos novos investidores com a reestruturação e o futuro da companhia.
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