Ibovespa tem dia de alívio com recuperação dos bancos; dólar recua, mas cenário jurídico segue no radar

O Ibovespa encerrou o pregão desta quarta-feira (20/8) com uma leve alta de 0,17%, aos 134.666,46 pontos, em um movimento de alívio técnico após a forte queda de quase 3 mil pontos registrada na véspera.
O dia foi de recuperação para o setor bancário, que havia sido o principal responsável pelas perdas do dia anterior, enquanto os investidores acompanhavam a pressão do presidente americano Donald Trump sobre o Federal Reserve e as movimentações no cenário do comércio global.
Fonte: Google Finance
Apesar da pequena alta, o sentimento do mercado é de que o movimento foi mais uma correção pontual do que uma mudança de tendência. A percepção de risco político e jurídico no Brasil continua no radar, e o foco dos mercados globais se volta para o simpósio de Jackson Hole, no final da semana, onde um discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, é aguardado com grande expectativa.
Bancos se recuperam após falas de ministro do STF
O setor bancário, que sofreu perdas expressivas na terça-feira, apresentou uma leve recuperação no pregão de hoje. As ações do Banco do Brasil (BBAS3) subiram 0,30%, as do Bradesco (BBDC4) avançaram 0,32%, as do Itaú Unibanco (ITUB4) ganharam 0,06%, e as do Santander (SANB11) tiveram uma alta mais ampla, de 2,08%.
O alívio para o setor veio após comentários do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que ajudaram a esclarecer parte da incerteza jurídica que derrubou os papéis na véspera. Em entrevista, ele reconheceu a complexidade da situação dos bancos brasileiros com operações nos EUA, mas ponderou sobre os limites da aplicação de leis estrangeiras no Brasil.
Ele explicou que, embora a lei norte-americana se aplique às operações dos bancos nos EUA, essas mesmas instituições não poderiam aplicar internamente no Brasil uma sanção estrangeira sem que ela fosse validada pelo sistema judiciário brasileiro, sob o risco de serem penalizadas localmente.
Essa sinalização de que há um rito legal a ser seguido ajudou a assentar parte do nervosismo do mercado.
Pressão sobre o Federal Reserve e o simpósio de Jackson Hole
No cenário internacional, as atenções se voltaram novamente para o Federal Reserve. O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a pressionar a instituição, pedindo a renúncia de uma das diretoras do banco central.
Em uma publicação em sua rede social, a Truth Social, Trump também criticou o chair do Fed, Jerome Powell, afirmando que a política de juros altos estaria prejudicando o setor imobiliário americano. "As pessoas não conseguem obter uma hipoteca por causa dele. Não há inflação, e todos os sinais apontam para um grande corte nos juros", escreveu.
A pressão ocorre em um momento estratégico, poucos dias antes do discurso de Powell no simpósio anual de Jackson Hole, na sexta-feira, onde ele deverá dar novos sinais sobre os próximos passos da política monetária.
No mesmo dia, o Fed divulgou a ata de sua última reunião, que não trouxe grandes novidades, mantendo o mercado em compasso de espera pelo simpósio. Em Wall Street, o dia foi de baixa para os índices Nasdaq e S&P 500.
Movimentações no comércio global em resposta aos EUA
Enquanto Trump mantém a pressão sobre o Fed, outros países continuam a se movimentar no tabuleiro do comércio global. O banco central chinês manteve sua taxa de juros inalterada.
Além disso, a China aumentou as importações de soja do Brasil e diminuiu as dos Estados Unidos, em uma clara resposta às disputas comerciais. O gigante asiático também se reaproximou da Índia, outro país que foi alvo recente de tarifas americanas.
Na Europa, os mercados tiveram mais um dia de alta, com a taxa de inflação de julho se mantendo dentro da meta do Banco Central Europeu.
Em paralelo, o presidente Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, conversaram por telefone e se comprometeram a avançar para a conclusão do tratado entre o Mercosul e a União Europeia, que ainda enfrenta resistências do lado francês.
No Brasil, para melhorar a infraestrutura de exportação, o governo está acelerando o processo de leilão de um terminal no Porto de Santos.
Desempenho dos setores e destaques corporativos no Brasil
O desempenho dos diferentes setores do Ibovespa foi misto. A Vale (VALE3) recuou 0,45%, acompanhando a queda do preço do minério de ferro no mercado internacional.
Já a Petrobras (PETR4) se beneficiou da alta do barril de petróleo e subiu 0,60%. As petroleiras juniores, como a Brava (BRAV3), também avançaram.
Os frigoríficos tiveram um dia de movimentos distintos. As ações da BRF (BRFS3) e da Marfrig (MRFG3) caíram após um pedido de vistas adiar o julgamento no Cade sobre a fusão das duas empresas.
A Minerva (BEEF3), por outro lado, subiu 1,71%. O varejo também ficou dividido, com perdas para a Lojas Renner (LREN3) e ganhos para a Vivara (VIVA3). O grande destaque individual do pregão foi a Simpar (SIMH3), cujas ações dispararam 10,05%, após a empresa anunciar a venda de uma controlada por um valor bilionário.
Dólar tem queda pontual, mas incerteza sobre decisão do STF continua
O dólar à vista recuou ante o real nesta quarta-feira, devolvendo uma parte do forte ganho do dia anterior, quando a moeda americana saltou mais de 1% e atingiu o maior patamar em duas semanas, a R$ 5,50. O movimento de hoje foi visto como um ajuste técnico, ou um "arrefecimento", após a forte aversão ao risco demonstrada na terça-feira em reação à decisão do ministro Flávio Dino, do STF.
A preocupação do mercado, que ainda persiste, é com a segurança jurídica das instituições financeiras brasileiras com operações no exterior.
Investidores temem que os bancos possam ficar em uma situação delicada: se cumprirem sanções impostas pelos EUA com base na Lei Magnitsky, poderiam ser punidos pela justiça brasileira, conforme sinalizado em entrevista pelo ministro Alexandre de Moraes. Por outro lado, se não cumprirem, poderiam sofrer retaliações no sistema financeiro americano.
O cenário externo contribuiu para a queda do dólar no dia. A alta nos preços do petróleo deu um impulso a moedas de países emergentes exportadores da commodity.
Ao mesmo tempo, os investidores globais mostraram cautela antes do aguardado discurso do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira, em Jackson Hole. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de moedas fortes, operava em leve baixa.
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