Bitcoin (BTC) tem forte queda com ajuste de alavancagem; temores sobre Fed e paralisação do governo dos EUA aumentam pressão

O Bitcoin (BTC) operou em forte queda nesta segunda-feira (22), descolando-se do desempenho das bolsas de Nova York e refletindo um ajuste no mercado após um acúmulo de alavancagem excessiva.

A queda foi intensificada por um cenário de cautela, com os investidores repercutindo falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, e os crescentes temores de uma paralisação do governo americano no final de setembro.

Fonte: CoinMarketCap

Por volta das 18h, o Bitcoin caía 2,3%, para US$ 112.800,24, enquanto o Ethereum (ETH) recuava de forma ainda mais acentuada, com uma queda de 7,51%, para US$ 4.159,76.

A aversão ao risco também atingiu as ações de empresas ligadas ao setor de criptomoedas, como a Coinbase e a MicroStrategy (agora Strategy), que operavam pressionadas com quedas de 2,6% and 2,3%, respectivamente.

Excesso de alavancagem e o efeito cascata das liquidações

A principal causa para a forte correção de preços, segundo especialistas, foi um ajuste técnico após um período de especulação excessiva.

As taxas de financiamento no mercado de derivativos, que medem o custo para manter posições compradas e alavancadas, haviam aumentado desde a reunião do Federal Reserve na semana passada. Isso sugere que uma grande quantidade de especulação ocorreu nos ativos digitais após o corte na taxa de juros.

Havia um excesso de alavancagem nessas apostas especulativas e, quando o preço começou a recuar, a leve queda inicial foi suficiente para acionar as primeiras liquidações forçadas. 

Esse movimento, por sua vez, teve um efeito em cascata: as liquidações forçadas geraram mais pressão vendedora, o que derrubou ainda mais os preços e acionou novas chamadas de margem, em um ciclo que acelerou a queda. A consultoria Kaiko destacou que essa dinâmica de liquidações em cascata foi o principal motor da forte desvalorização vista no dia.

Dirigentes do Fed adotam tom mais cauteloso sobre futuros cortes de juros

Enquanto o mercado de derivativos passava por seu ajuste técnico, o cenário macroeconômico também contribuiu para o sentimento de cautela.

Diversos dirigentes do Federal Reserve se pronunciaram ao longo do dia e reforçaram um tom mais duro ("hawkish") em relação aos próximos passos da política monetária.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, por exemplo, afirmou que não prevê mais cortes de juros este ano, uma visão que vai na contramão das expectativas de parte do mercado.

O único a destoar do tom mais cauteloso foi o diretor Stephen Miran, que voltou a criticar a autoridade monetária por manter uma política muito restritiva por tanto tempo. A fala da maioria dos membros do Fed, no entanto, serviu para moderar o otimismo que havia se formado na semana anterior, quando o corte de juros foi anunciado.

Temores de uma paralisação do governo dos EUA aumentam a aversão ao risco

Para adicionar mais uma camada de incerteza ao cenário, os investidores também acompanharam as dificuldades políticas em Washington.

Os republicanos no Congresso estão tentando aprovar uma prorrogação do financiamento do governo para além do prazo de 30 de setembro, mas estão enfrentando resistência dos democratas, que barraram a proposta no Senado na última sexta-feira.

A falta de um acordo aumenta as chances de uma paralisação parcial do governo americano, o chamado "government shutdown".

Esse tipo de evento gera uma grande incerteza econômica e política, o que leva os investidores a adotarem uma postura de aversão ao risco, vendendo ativos mais voláteis, como as criptomoedas, e buscando a segurança de ativos mais conservadores.

Perspectiva de longo prazo continua sólida apesar da volatilidade

Apesar da forte queda e da cautela de curto prazo, a perspectiva de longo prazo para as criptomoadas, e para o Bitcoin em particular, parece se manter sólida na visão de algumas das maiores instituições financeiras.

O Deutsche Bank, por exemplo, destacou em uma análise que os tokens dispararam este ano graças à aprovação de uma série de regulamentações favoráveis por parte dos parlamentares dos Estados Unidos.

A visão do banco é de que essa maior clareza regulatória cria um ambiente mais seguro e atrativo para a entrada de capital institucional no setor.

Com base nesse cenário, o Deutsche Bank mantém uma expectativa de que o Bitcoin deve subir novamente e ultrapassar a marca de US$ 120.000 até o final do ano, sugerindo que a queda atual pode ser vista como uma correção saudável dentro de uma tendência de alta de longo prazo.

MicroStrategy compra mais 850 bitcoins por US$ 99,7 milhões

Enquanto o mercado de curto prazo reage à volatilidade, a MicroStrategy, de Michael Saylor, adquiriu mais 850 Bitcoins por US$ 99,7 milhões durante a semana encerrada no último domingo. A compra foi feita a um preço médio de US$ 117.344 por moeda, aproveitando o momento em que o BTC atingiu máximas de várias semanas, acima de US$ 117.000, após o corte de juros pelo Federal Reserve. A aquisição elevou as participações totais da empresa para 639.835 BTC, comprados a um preço médio total de US$ 73.971 por moeda.

Strategy comprou 850 bitcoins por um preço médio de $117.344. Fonte: SEC

A compra mais recente da empresa, no entanto, manteve a tendência de aquisições mais modestas, destacando uma desaceleração em comparação com os grandes volumes vistos no início do ano.

Até agora em setembro, a empresa adquiriu 3.330 Bitcoins, uma queda acentuada em relação aos 7.714 BTC comprados em agosto, que por sua vez já representavam uma queda de 75% em relação a julho, quando foram adquiridos 31.466 BTC.