Bitcoin (BTC) sobe para US$ 110 mil, mas dados on-chain apontam para uma estrutura de mercado 'frágil'

O preço do Bitcoin (BTC) apresentou uma recuperação nesta terça-feira (2/9), com uma alta de 2,4% nas últimas 24 horas que o levou a ser negociado novamente acima do patamar de US$ 110.000.

No entanto, embora alguns indicadores técnicos de curto prazo apontem para a formação de um fundo local, outras métricas da blockchain (on-chain) sugerem que a estrutura de mercado da principal criptomoeda continua "frágil", com uma demanda enfraquecida e uma postura defensiva por parte dos traders.

Fonte: CoinMarketCap

A análise dos dados dos mercados à vista e de futuros indica uma diminuição na participação dos investidores e uma relutância em assumir posições de maior risco após a recente volatilidade. O cenário atual coloca o Bitcoin em uma zona de preço decisiva, com importantes níveis de suporte e resistência que devem ditar a tendência para os próximos dias.

Demanda no mercado à vista mostra sinais de fraqueza

A demanda no mercado à vista (spot) por Bitcoin foi fraca na última semana, um sinal de cautela entre os investidores. O volume de negociações, segundo dados da Glassnode, caiu 9%, passando de US$ 8,5 bilhões para US$ 7,7 bilhões. A empresa de inteligência de mercado aponta que volumes mais baixos geralmente refletem uma "convicção mais fraca" entre os traders e sinalizam uma diminuição na participação geral do mercado.

Embora o indicador CVD (Cumulative Volume Delta) à vista, que mede a pressão de compra versus a de venda, tenha melhorado ligeiramente, indicando uma redução na força vendedora, o quadro geral das métricas do mercado à vista aponta para uma demanda que ainda é considerada frágil.

Mercado de futuros adota uma postura mais defensiva

O mercado de derivativos também reflete essa postura mais cautelosa. O interesse aberto (open interest) em contratos futuros de Bitcoin, que representa o valor total das posições abertas, caiu de US$ 45,8 bilhões para US$ 45 bilhões.

Essa redução moderada sugere que os traders estão fechando algumas de suas posições e adotando um comportamento de menor risco, com uma demanda menor por alavancagem após a recente correção de preço a partir das máximas históricas.

Outro indicador importante, as taxas de financiamento dos futuros, também apresentou uma queda significativa, passando de US$ 3,8 bilhões para US$ 2,8 bilhões.

Taxas de financiamento mais baixas sinalizam uma menor demanda por posições compradas (longs) e uma relutância dos investidores em pagar prêmios mais altos para manter suas posições abertas. O conjunto desses dados evidencia uma postura mais defensiva dos traders após a recente volatilidade.

Análise técnica e os principais níveis de preço

Do ponto de vista da análise técnica, o Bitcoin se recuperou após tocar a linha inferior de um canal paralelo descendente, na faixa de US$ 107.300, na segunda-feira.

A alta de 2,4% levou o preço para a região de US$ 110.000, onde agora enfrenta uma resistência imediata na linha superior do mesmo canal, em US$ 110.500.

Para que os compradores ganhem força, seria necessário um fechamento diário acima desse nível, o que sinalizaria uma possível quebra da tendência de baixa de curto prazo. A próxima barreira de resistência importante está na zona de liquidez entre US$ 110.000 e US$ 117.000, onde se encontram as médias móveis de 50 e 100 dias.

No lado da queda, os suportes imediatos a serem observados são o meio do canal, em US$ 108.000, e a mínima de segunda-feira, em US$ 107.300. Uma perda desses níveis poderia levar a uma queda em direção ao suporte chave de US$ 100.000.

A 'caça por liquidez' e as expectativas de curto prazo

O mapa de liquidação do Bitcoin revela grandes clusters de liquidez em zonas de preço específicas, que podem atuar como ímãs para o preço no curto prazo.

Acima do preço atual, há uma concentração significativa de liquidez entre US$ 110.000 e US$ 111.000, onde estão posicionadas as ordens de stop de posições vendidas. Abaixo do preço, a principal zona de liquidez está entre US$ 105.500 e US$ 107.000, onde se encontram as ordens de stop de posições compradas.

O mercado frequentemente se move em direção a essas zonas para "caçar" a liquidez, forçando a liquidação de posições alavancadas. A interpretação de alguns participantes do mercado é de que o movimento de alta recente pode ser uma busca pela liquidez das posições vendidas na faixa de US$ 110.000 a US$ 111.000, antes de um possível novo teste da mínima de segunda-feira para capturar a liquidez das posições compradas.

A fragilidade da estrutura de mercado do Bitcoin é reforçada por dados recentes de fluxo de capital, que mostram uma desaceleração na demanda e uma clara rotação de grandes investidores para o Ethereum.

Fluxos de ETPs e rotação de 'baleias' sinalizam desaceleração na demanda por Bitcoin

Os produtos negociados em bolsa (ETPs) de Bitcoin agora detêm mais de 1,47 milhão de moedas, o que equivale a 7% da oferta máxima de 21 milhões de BTC.

Desse total, os ETFs baseados nos EUA são responsáveis pela maior fatia, com mais de 1,29 milhão de BTC. O fundo da BlackRock, IBIT, é o maior detentor, com 746.810 BTC, seguido pelo FBTC da Fidelity, com pouco menos de 199.500 BTC.

Apesar do volume expressivo, a demanda por esses produtos parece estar desacelerando. Dados de fluxo de capital mostram que os ETPs de Bitcoin em todo o mundo registraram uma saída líquida de US$ 301 milhões durante o mês de agosto.

Em contraste, os fundos de Ethereum atraíram entradas de US$ 3,95 bilhões no mesmo período, evidenciando uma forte preferência dos investidores pelo segundo maior criptoativo do mercado no momento.

Balanço de agosto dos ETFs globais de Bitcoin. Fonte: HODL15Capital

Essa rotação de capital também é visível no comportamento de grandes investidores, as "baleias". Na segunda-feira, uma única baleia de Bitcoin vendeu 4.000 BTC para comprar 96.859 Ether.

Além disso, dados da blockchain reportaram que, na última quarta-feira, um grupo de nove baleias realizou lucros em suas posições de Bitcoin e rotacionou o capital para o ETH, com compras que somaram US$ 456 milhões.

A desaceleração na demanda por Bitcoin ocorre em um momento em que outros fatores também pesam sobre o ativo. Setembro é, historicamente, o mês mais fraco para o desempenho do BTC.

Além disso, a grande quantidade de ETFs de outras criptomoedas, como Solana e XRP, que aguardam uma decisão da SEC em outubro, pode estar causando uma pausa nos investimentos em Bitcoin, enquanto o mercado aguarda novas opções de diversificação.