Risco político derruba ações do Banco do Brasil (BBAS3); Ibovespa recua com incerteza sobre tarifas nos EUA

As ações do Banco do Brasil (BBAS3) estiveram entre os principais destaques de baixa do Ibovespa na sessão desta terça-feira (2/9), com os investidores monitorando o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
Os papéis do banco estatal chegaram a cair mais de 4% durante o dia e fecharam com uma desvalorização de 3,18%, a R$ 20,42. O movimento de aversão ao risco também atingiu outras instituições financeiras, mas de forma menos intensa.
Fonte: Google Finance
A principal preocupação do mercado é a de que uma eventual condenação de Bolsonaro pela 1ª turma do STF possa levar a uma nova escalada nas tensões com os Estados Unidos, resultando em mais sanções que poderiam afetar diretamente o Banco do Brasil.
A percepção de um risco político e jurídico elevado levou os investidores a se desfazerem das ações do banco ao longo do dia.
O julgamento e o temor de novas sanções dos EUA
A análise de consultorias de risco político, como a Eurasia, aponta que o julgamento de Bolsonaro já é um ponto de atrito significativo nas relações entre Brasil e EUA.
A Casa Branca já impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro do STF Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky Global, em resposta ao que o presidente americano, Donald Trump, rotula publicamente como uma "acusação antidemocrática".
A expectativa do mercado é de que uma condenação possa levar a novas medidas por parte dos EUA, como a suspensão de vistos para mais autoridades brasileiras e uma interpretação ainda mais rigorosa da Lei Magnitsky.
O principal temor, que afetou diretamente as ações do Banco do Brasil, é a possibilidade de a Casa Branca impor sanções ou penalidades à instituição. A justificativa para tal medida seria o fato de o BB ser o banco estatal onde servidores públicos, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, recebem seus salários.
Embora não haja nada de oficial sobre o tema, a possibilidade é vista como plausível pelo mercado.
O dilema dos bancos brasileiros com a Lei Magnitsky
Toda a situação acendeu um sinal de alerta para o setor financeiro brasileiro nas últimas semanas. As ações do Banco do Brasil, por exemplo, já haviam registrado forte queda na segunda quinzena de agosto, após a inclusão de Moraes na lista de sancionados e, especialmente, após uma decisão do ministro Flávio Dino.
A decisão de Dino determinou que todo bloqueio de ativos ou contas de brasileiros em território nacional só pode ocorrer com autorização da Justiça brasileira. Isso criou um dilema para os bancos com operações internacionais.
Eles se veem em uma encruzilhada: se cumprirem uma ordem de sanção vinda dos EUA, como o bloqueio de contas, poderiam estar descumprindo uma determinação do STF no Brasil. Por outro lado, se não cumprirem as sanções americanas, correm o risco de sofrer multas e impactos diretos em seus negócios nos Estados Unidos.
O episódio do final de agosto, no qual o Banco do Brasil ofereceu um cartão da bandeira Elo ao ministro Moraes após o cancelamento de seu cartão de bandeira americana, foi um exemplo prático desse impasse.
Desempenho do setor bancário na bolsa
O impacto dessa incerteza foi visível no pregão desta terça-feira. Além da queda de 3,18% do Banco do Brasil, que foi o mais penalizado, outras grandes instituições também fecharam no vermelho.
As ações do Itaú (ITUB4) caíram 1,70%, as do Bradesco (BBDC4) recuaram 1,26%, e as units do Santander Brasil (SANB11) tiveram uma leve baixa de 0,39%.
O desempenho negativo do setor, que tem grande peso no Ibovespa, foi um dos principais fatores que pressionaram o índice como um todo no dia.
A aversão ao risco gerada pela incerteza jurídica no Brasil encontrou um eco no cenário internacional, onde os mercados também reagiram negativamente a uma decisão da justiça americana que colocou em xeque as tarifas de importação do governo Trump.
Ibovespa e bolsas globais recuam com decisão judicial sobre tarifas nos EUA
O Ibovespa encerrou o dia em queda de 0,67%, aos 140.335,16 pontos, em uma sessão de aversão ao risco que também atingiu os mercados internacionais. O dólar comercial, por sua vez, subiu 0,65%, para R$ 5,474, enquanto as taxas de juros futuros avançaram em toda a curva.
Fonte: Google Finance
Em Wall Street, os principais índices fecharam em queda. Os investidores, ao retornarem do feriado do Dia do Trabalho, repercutiram a notícia de que uma corte americana considerou ilegais algumas das tarifas de importação implementadas pelo governo Trump.
A decisão, embora potencialmente positiva no longo prazo, gerou incerteza imediata sobre o futuro da política comercial do país, levando a um movimento de venda. Para analistas, a incerteza corporativa em relação às tarifas deve permanecer elevada.
As bolsas na Europa também fecharam em baixa, pressionadas pela disparada nos rendimentos dos títulos públicos da região, que atingiram suas máximas em anos. Em um movimento geopolítico paralelo, a Rússia e a China avançaram em um acordo bilionário de gás, fortalecendo seus laços comerciais em um claro contraponto às políticas dos EUA.
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