Ouro renova máxima histórica em dia de aversão ao risco; dólar perde força após fala de Powell

Pedro Augusto Prazeres
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Fonte: DepositPhotos

Em um cenário de incertezas globais e tensões tarifárias, os metais preciosos têm se destacado no mercado financeiro, atingindo novos recordes de preço. Nesta terça-feira (13), o ouro fechou em uma nova máxima histórica, enquanto a prata renovou seu maior nível em 45 anos.

Na Comex, a divisão de metais da bolsa de Nova York, o contrato de ouro para dezembro encerrou em alta de 0,73%, a US$ 4.163,4 por onça-troy, após atingir um pico de US$ 4.190,90 durante a sessão. A prata para dezembro também subiu 0,38%, para US$ 50,62 por onça-troy, depois de chegar a US$ 52,49.

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Fonte: Investing.com

O forte desempenho de ambos os metais é impulsionado pela expectativa de que o Federal Reserve inicie um ciclo de cortes de juros, o que aumenta a atratividade de ativos que não pagam rendimentos, como o ouro e a prata.

No entanto, uma análise mais aprofundada do banco de investimentos Goldman Sachs aponta que, embora a prata deva continuar subindo no médio prazo, ela enfrenta uma volatilidade e um risco de queda no curto prazo muito maiores do que o ouro.

Em suma, o metal amarelo se beneficia de uma demanda estrutural por parte de bancos centrais.

A tese de investimento para a prata e a conexão com o ouro

O ponto de partida da análise é que, assim como o ouro, a demanda de investimento privado é o principal motor para os preços da prata. O Goldman Sachs estima que uma entrada de 1.000 toneladas de prata no mercado, seja via ETFs ou posições especulativas, normalmente eleva o preço do metal em cerca de 1,6%.

Historicamente, os fluxos de investimento privado se movem em conjunto nos mercados de ouro e prata, o que faz com que os preços das duas commodities estejam geralmente interligados, mantendo a relação de preço entre eles em uma faixa de 45 a 80.

Com a perspectiva de cortes de juros pelo Fed e o consequente retorno do capital para os ETFs de metais preciosos, a prata está se recuperando e voltando a se alinhar com o ouro.

A análise aponta que o preço da prata pode reagir de forma ainda mais forte a esses fluxos, pois seu mercado é menos líquido e cerca de nove vezes menor que o do ouro, o que tende a amplificar os movimentos de preço, tanto para cima quanto para baixo.

A restrição de liquidez em Londres e os riscos de curto prazo

A recente e forte alta da prata, que acumula uma valorização de 35% desde 26 de agosto, foi ampliada por uma restrição temporária de liquidez no mercado físico.

Os estoques em Londres, principal centro global de negociação de prata, caíram no início do ano devido a preocupações com as tarifas dos EUA, que atraíram parte do metal para o mercado americano.

O rápido aumento da demanda por ETFs lastreados em prata física absorveu ainda mais o metal disponível, reduzindo a oferta no curto prazo, o que elevou as taxas de aluguel e impulsionou os preços.

No entanto, para os analistas do Goldman, esse desequilíbrio deve se normalizar com o tempo. A expectativa é de que os preços mais altos em Londres incentivem o retorno do metal dos Estados Unidos e de outras regiões, restaurando a liquidez do mercado.

Com a normalização da oferta, um dos principais catalisadores da alta recente perderia força, o que aumenta o risco de uma correção no curto prazo.

A vantagem estrutural do ouro como reserva de valor

A principal diferença entre os dois metais, e o que confere maior estabilidade ao ouro, é a demanda estrutural por parte dos bancos centrais.

Desde 2022, o ouro se desvinculou da relação histórica de preços com a prata justamente devido ao aumento das compras por parte dessas instituições, que elevaram o preço do ouro mesmo em períodos de saídas de capital de investidores privados.

A prata, por outro lado, não conta com essa demanda dos bancos centrais, o que a torna mais dependente do fluxo de investimento privado e, consequentemente, mais volátil. Sem essa "âncora" de demanda, até mesmo uma breve redução nos fluxos de investimento pode causar correções desproporcionais na prata. 

A análise do Goldman aponta que não há suporte estrutural dos bancos centrais para a prata por três motivos principais. O primeiro está relacionado às propriedades físicas: o ouro é mais adequado para reservas por ser cerca de 10 vezes mais raro, 80 vezes mais valioso por onça e duas vezes mais denso, o que facilita seu armazenamento e transporte em grande escala.

O segundo motivo é o perfil institucional: a prata não tem o mesmo status do ouro, não é reconhecida como um ativo de reserva pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e não está presente de forma relevante nas carteiras dos bancos centrais.

Por fim, a forte exposição da prata à demanda industrial a torna um ativo "pró-cíclico", que tende a se valorizar em momentos de crescimento econômico, enquanto o ouro funciona melhor como uma proteção "contracíclica" em momentos de crise.

Dólar sobe pela manhã com aversão ao risco e atinge R$ 5,52

O mesmo sentimento de aversão ao risco que impulsionou o ouro para novas máximas também deu força ao dólar na primeira metade do dia.

No entanto, a moeda americana perdeu o fôlego à tarde, após comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. O dólar teve um dia de forte volatilidade nesta terça-feira (14), iniciando o pregão em alta firme. 

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Pela manhã, a moeda foi impulsionada pelo avanço das cotações também no exterior, em um movimento em que os investidores buscavam ativos de menor risco, como os títulos do Tesouro americano, o dólar e o ouro.

A aversão a ativos mais arriscados, como moedas de países emergentes, refletia os receios de um acirramento no embate comercial entre os Estados Unidos e a China. Nesse cenário, o dólar à vista chegou a marcar a cotação máxima de R$ 5,5202.

Fala de Powell sobre o QT reverte o movimento e limita a alta

A tendência de alta, no entanto, foi revertida ao longo da tarde. O movimento de queda começou a ganhar força com a entrada de vendedores no mercado, como exportadores que aproveitaram a cotação elevada para internalizar recursos.

O fator decisivo para a virada, no entanto, foram os comentários do presidente do Fed, Jerome Powell. Em evento nos Estados Unidos, Powell indicou que o fim do processo de redução do balanço patrimonial do Fed — o aperto quantitativo (QT) — pode estar próximo.

A sinalização de que o banco central americano pretende parar de drenar a liquidez do sistema foi bem recebida pelos mercados.

Em reação, os índices de ações em Nova York ganharam força, e o dólar virou para o negativo ante várias divisas, incluindo o real, atingindo a menor cotação do dia, de R$ 5,4556. No restante da sessão, a moeda americana voltou a subir, mas com menor intensidade, fechando com uma leve alta de 0,19%, aos R$ 5,4709, distante das máximas do dia.

No cenário doméstico, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo começará a trabalhar em alternativas para compensar a perda de receita com o arquivamento da MP 1303.

Isenção de responsabilidade: este artigo representa apenas a opinião do autor e não pode ser usado como consultoria de investimento. O conteúdo do artigo é apenas para referência. Os leitores não devem tomar este artigo como base para investimento. Antes de tomar qualquer decisão de investimento, procure orientação profissional independente para garantir que você entenda os riscos.

 

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