Governo Trump negocia compra de 10% da Intel com subsídios do Chips Act

Pedro Augusto Prazeres
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Fonte: DepositPhotos

O governo de Donald Trump está em negociações para adquirir uma participação de aproximadamente 10% na Intel (INTC), segundo fontes anônimas a par do assunto.

A medida, se concretizada, poderia transformar o governo dos Estados Unidos no maior acionista da icônica fabricante de chips, que enfrenta um período de crise. A proposta em avaliação envolve a conversão de parte ou da totalidade dos subsídios concedidos à empresa pela lei "Chips and Science Act" em ações da companhia.

Fonte: Investing.com

A notícia representa uma potencial escalada na intervenção do governo em setores considerados estratégicos para a economia e a segurança nacional. A Casa Branca e a Intel não comentaram oficialmente as negociações.

Após a divulgação dos detalhes da negociação, as ações da empresa recuaram 3% no pregão de segunda-feira, revertendo parte dos ganhos da semana anterior, que haviam sido os maiores desde fevereiro.

A conversão de subsídios em participação acionária

A base da negociação é o pacote de incentivos do Chips Act, uma lei aprovada em 2022 para fomentar a produção de semicondutores em solo americano. A Intel foi uma das principais beneficiárias, selecionada para receber US$ 10,9 bilhões em subsídios destinados tanto à produção comercial quanto à militar. O valor é muito próximo do necessário para adquirir a participação desejada pelo governo. Com base na avaliação de mercado atual, uma fatia de 10% da Intel equivale a cerca de US$ 10,5 bilhões.

Segundo as fontes, o tamanho exato da participação e a decisão de levar o plano adiante ainda estão em aberto. Se o acordo avançar, a Intel não receberia necessariamente mais recursos do que o previsto, mas poderia recebê-los de forma mais rápida.

O modelo do Chips Act prevê que os fundos sejam liberados ao longo do tempo, à medida que as empresas cumprem metas pré-acordadas. Até janeiro, a Intel havia recebido US$ 2,2 bilhões desse total. O governo também considera a possibilidade de usar o mesmo modelo de conversão de subsídios em ações com outras empresas do setor, mas não está claro se a ideia possui amplo apoio dentro da administração.

O contexto da crise e da reestruturação da Intel

A possibilidade de uma intervenção governamental tão direta acontece em um momento delicado para a Intel. A empresa, que por décadas foi líder mundial em tecnologia de semicondutores, hoje enfrenta vendas estagnadas, prejuízos recorrentes e uma grande dificuldade em recuperar a vanguarda tecnológica.

O novo CEO, Lip-Bu Tan, que assumiu o cargo recentemente, está tentando implementar um plano de reestruturação focado em cortes de custos e demissões para tentar reverter a situação.

A aproximação entre o governo e a empresa se intensificou na semana passada, quando Tan se encontrou com Trump na Casa Branca, um encontro que abriu caminho para as negociações. Anteriormente, o presidente havia criticado o executivo por seus laços com a China, mas mudou o tom e o elogiou publicamente, o que sinaliza um alinhamento entre as partes.

A importância estratégica de resgatar uma pioneira americana

A preocupação de Washington com o futuro da Intel não é nova e transcende a gestão atual. A perda de liderança da empresa americana para a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), hoje a maior fabricante de semicondutores avançados do mundo, é vista como um obstáculo aos esforços dos EUA para trazer de volta ao país a produção de chips de ponta, que migrou em grande parte para a Ásia nas últimas décadas.

Embora concorrentes como a TSMC e a sul-coreana Samsung Electronics estejam ampliando suas operações em solo americano com incentivos do próprio Chips Act, o governo considera estratégico ter uma empresa de capital nacional, como a Intel, fabricando os chips mais avançados dentro do país.

Durante a gestão anterior, de Joe Biden, chegaram a ser cogitadas fusões improváveis para fortalecer a Intel, como com a GlobalFoundries. Já a equipe de Trump teria discutido a ideia de a TSMC operar fábricas da Intel, um plano que não avançou, assim como a hipótese de buscar investimentos dos Emirados Árabes Unidos.

Um padrão de maior intervenção governamental na economia

Se confirmada, a aquisição de uma participação na Intel não seria um evento isolado, mas sim mais um exemplo de um padrão recente de maior intervenção do governo Trump em setores estratégicos. Nos últimos meses, a administração tomou uma série de medidas que indicam uma nova postura em relação à economia.

Entre os exemplos estão a decisão de garantir 15% da receita de algumas vendas de chips para a China e a aquisição de uma "ação dourada" (golden share) na US Steel, o que deu ao governo poder de veto, como condição para autorizar a venda da siderúrgica a um grupo japonês.

Em outro movimento inédito, o Departamento de Defesa anunciou no mês passado a aquisição de US$ 400 milhões em ações da produtora de terras raras MP Materials, tornando-se seu maior acionista, com cerca de 15% da empresa.

Intel avança com produto de IA para competir com NVIDIA e AMD

Enquanto as discussões sobre uma possível participação do governo na Intel continuam, a empresa segue com seus próprios esforços para recuperar a competitividade no mercado, especialmente no aquecido setor de inteligência artificial.

A Intel está se preparando para o lançamento de sua nova workstation dedicada à inteligência artificial, chamada de Project Battlematrix. O movimento é uma tentativa da empresa de competir diretamente com as gigantes do setor, AMD e NVIDIA, mas com uma estratégia de custo mais acessível.

A solução da Intel, que inclui processadores Xeon e até oito placas de vídeo Arc Pro, tem um preço estimado entre US$ 5 mil e US$ 10 mil, um valor consideravelmente abaixo das soluções concorrentes, o que pode atrair um novo segmento de clientes.

Fonte: Intel

Nesta semana, a empresa liberou uma importante atualização de software para o projeto, que trouxe ganhos de performance de até 4,2 vezes para tarefas com Grandes Modelos de Linguagem (LLMs).

A Intel descreveu a atualização como uma "habilitação antecipada para clientes", um forte sinal para o mercado de que o lançamento comercial do produto está próximo e que as máquinas já estão sendo testadas por alguns de seus principais parceiros. Com um roteiro claro de novas atualizações previstas para os próximos trimestres, a iniciativa representa um dos principais esforços da Intel para recuperar relevância tecnológica.

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