Ações do Banco do Brasil (BBAS3) caem com corte de dividendos e tensões envolvendo sanções dos EUA

Pedro Augusto Prazeres
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Fonte: DepositPhotos

O Banco do Brasil (BBAS3) enfrenta um ano de 2025 turbulento no mercado de ações, com seus papéis acumulando uma queda de 17% até agora. O desempenho abaixo das expectativas de muitos investidores foi agravado por uma série de anúncios recentes que aumentaram a cautela em relação à tese de investimento no banco estatal.

Os dois principais fatores por trás do sentimento negativo foram a decisão da administração de cortar a porcentagem do lucro distribuída como dividendos e uma revisão para baixo no preço-alvo da ação por parte de um grande banco de investimentos.

Fonte: Google Finance

O cenário reflete as preocupações do mercado com as perspectivas para a instituição em um ambiente macroeconômico instável e com um possível impacto negativo sobre o setor do agronegócio, um dos principais motores do crédito do banco. A combinação desses fatores tem levado a um questionamento sobre se a ação está, de fato, tão barata quanto seus múltiplos sugerem.

A nova política de dividendos e o impacto no retorno ao acionista

Um dos pontos que mais gerou desconforto entre os investidores foi a mudança na política de remuneração aos acionistas. O Banco do Brasil anunciou um corte em seu "payout", que é a parcela do lucro líquido destinada ao pagamento de dividendos, de um patamar de 40% para uma nova meta de 30%.

Na prática, isso significa que o banco reterá uma fatia maior de seus lucros para reinvestimento ou reforço de capital, distribuindo menos para os seus acionistas.

Para atingir a nova meta anual, a distribuição no segundo semestre de 2025 deve ser ainda menor, com uma previsão de um payout de apenas 25%, para compensar os 35% que foram distribuídos na primeira metade do ano.

A consequência direta dessa mudança é uma piora no retorno com dividendos. A expectativa de dividend yield (retorno percentual do dividendo em relação ao preço da ação) para 2025 foi revisada para baixo, de uma previsão inicial de 6% para cerca de 5%.

Para agravar a percepção de uma política de remuneração mais restritiva, o banco também comunicou que não realizará o pagamento antecipado dos dividendos referentes ao terceiro trimestre. Com isso, os acionistas só deverão receber os próximos proventos em dezembro de 2025, reforçando a visão de que a distribuição de lucros será mais escassa no futuro próximo.

Revisão de preço-alvo reflete cenário mais desafiador

Acompanhando o aumento da cautela com a empresa, um grande banco de investimentos revisou suas projeções para as ações do BBAS3. A instituição cortou seu preço-alvo de R$ 26 para R$ 23, mantendo uma recomendação neutra para o papel.

O novo preço-alvo implica um potencial de valorização de apenas 16% em relação aos níveis atuais de negociação da ação.

Para o mercado, um potencial de alta tão limitado, vindo de uma das maiores instituições financeiras do país, não é considerado particularmente atraente, especialmente quando se leva em conta os riscos envolvidos no investimento. A revisão reflete um ajuste às perspectivas mais negativas para o banco.

Valuation não é considerado atraente apesar dos múltiplos baixos

A análise do banco de investimentos que cortou o preço-alvo traz um ponto importante sobre a avaliação da empresa. Segundo os analistas, embora as ações do Banco do Brasil possam parecer baratas quando se olha para seus múltiplos ajustados, o "valuation" não parece tão atrativo diante do cenário atual.

Em outras palavras, o que parece ser um desconto pode ser, na verdade, um reflexo justo dos riscos que a empresa enfrenta.

Essa visão mais pessimista é sustentada por três fatores principais. O primeiro é o cenário macroeconômico instável, que pode continuar a pressionar os resultados do setor bancário como um todo.

O segundo é a forte exposição do banco ao agronegócio, um setor que pode sofrer impactos negativos, afetando a qualidade da carteira de crédito da instituição. Por fim, o último resultado trimestral do banco, com um lucro líquido ajustado que ficou abaixo do esperado pelo mercado, também contribuiu para a deterioração da confiança.

Perspectivas para a distribuição de lucros

A expectativa de uma remuneração menor aos acionistas é reforçada por um detalhe técnico nos resultados do banco. Segundo as projeções do mercado, o "lucro distribuível" do Banco do Brasil em 2025 deve ficar cerca de 5% abaixo do seu "lucro contábil".

Isso significa que nem todo o lucro que o banco registra em seu balanço pode ser efetivamente convertido em caixa para o pagamento de dividendos, o que pressiona ainda mais o montante final a ser recebido pelos investidores e corrobora a tese de que o retorno via proventos será mais baixo nos próximos meses.

Banco do Brasil bloqueia cartão de ministro do STF em cumprimento a sanções dos EUA

De acordo com informações publicadas nesta quinta-feira (21/8) pelo jornal Valor Econômico, o Banco do Brasil bloqueou um cartão de crédito internacional de bandeira norte-americana do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A medida ocorreu em razão das sanções impostas pelos Estados Unidos com base na Lei Magnitsky, que prevê o bloqueio de ativos e transações financeiras de cidadãos estrangeiros em território americano. Segundo a reportagem, em substituição, teria sido oferecido ao ministro um cartão da bandeira Elo, que não possui operações nos Estados Unidos.

Em nota divulgada na terça-feira (19/8), o Banco do Brasil, sem citar o caso específico, afirmou que, com mais de 80 anos de atuação no exterior, "acumula sólida experiência em relações internacionais e está preparada para lidar com temas complexos e sensíveis que envolvem regulamentações globais". A comunicação posiciona a ação do banco como um cumprimento de regras internacionais às quais está sujeito por ter operações nos EUA.

Incerteza regulatória e o temor do mercado financeiro

O episódio acentuou a preocupação do mercado financeiro com a insegurança jurídica gerada pelo impasse entre as legislações do Brasil e dos Estados Unidos.

O maior temor entre os bancos brasileiros é o risco de se verem em uma situação delicada: por terem operações em território americano, são obrigados a cumprir as sanções impostas por Washington, sob o risco de sofrerem pesadas restrições ou multas.

Por outro lado, uma decisão do ministro do STF Flávio Dino, na segunda-feira (18/8), suspendeu a eficácia de decisões estrangeiras no Brasil sem a aprovação da Justiça nacional, o que cria um potencial conflito.

A incerteza sobre como os bancos devem agir nesse cenário levou a uma forte onda de vendas nas ações do setor. Na terça-feira (19), os principais bancos brasileiros perderam, em bloco, R$ 41,8 bilhões em valor de mercado, em uma reação que foi interpretada como um reflexo direto das tensões envolvendo a Lei Magnitsky.

Isenção de responsabilidade: este artigo representa apenas a opinião do autor e não pode ser usado como consultoria de investimento. O conteúdo do artigo é apenas para referência. Os leitores não devem tomar este artigo como base para investimento. Antes de tomar qualquer decisão de investimento, procure orientação profissional independente para garantir que você entenda os riscos.

 

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