Dólar recua globalmente após dados de inflação nos EUA

O dólar americano registrou uma forte baixa nos mercados globais nesta terça-feira (12/8), após a divulgação de dados da inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos referentes a julho.
Embora os números tenham sido mistos, eles foram suficientes para solidificar as apostas do mercado de que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, irá cortar sua taxa de juros a partir de setembro. Como resultado, a moeda norte-americana perdeu força em relação a uma cesta de moedas globais, com destaque para as de países emergentes.
Fonte: Google Finance
No Brasil, esse movimento resultou na maior valorização do real em mais de um ano, com a cotação do dólar à vista recuando para o nível de R$ 5,38. No mercado de commodities, o ouro, que tem uma relação inversa com o dólar, recuperou perdas iniciais e subiu, também influenciado por fatores políticos internos dos EUA que aumentaram a procura pelo metal como ativo de segurança.
Dados de inflação e a expectativa de corte de juros pelo Fed
O principal gatilho para os mercados no dia foi o relatório do CPI dos EUA. O índice de preços ao consumidor subiu 0,2% em julho, um resultado exatamente em linha com as projeções de economistas consultados pela Reuters. Na comparação anual, a inflação ficou em 2,7%, ligeiramente abaixo das previsões de 2,8% e no mesmo patamar de junho.
Apesar do resultado principal moderado, o relatório foi considerado misto porque seu núcleo, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 3,1% no acumulado de 12 meses.
Esse número ficou acima tanto das estimativas de 3% quanto do dado de 2,9% registrado no mês anterior. Ainda assim, os investidores optaram por focar no dado principal, que, somado a números fracos do mercado de trabalho americano divulgados recentemente, foi interpretado como um sinal verde para o Fed iniciar um ciclo de afrouxamento monetário.
Com isso, as apostas para um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião do Fed, em setembro, aumentaram para 95%. O mercado já precifica integralmente uma segunda redução da mesma magnitude até dezembro.
Real se valoriza e dólar atinge R$ 5,38
O cenário de queda de juros nos EUA impactou diretamente o mercado de câmbio brasileiro. O dólar à vista fechou em baixa de 1,06%, cotado a R$ 5,3864, sua menor cotação de fechamento desde 14 de junho de 2024. A queda da moeda americana foi um movimento global, refletido no índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de seis moedas fortes e que recuava cerca de 0,45% no dia.
O real se beneficiou principalmente do aumento do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos. Com a taxa Selic mantida em 15% e a perspectiva de queda nos juros americanos, o Brasil se torna mais atraente para a entrada de capital estrangeiro, ainda que de natureza mais especulativa, em busca de maiores rendimentos.
Segundo Vitor Oliveira, sócio da One Investimentos, a tendência de queda do dólar ficou clara após os dados de inflação, pois a manutenção da disparidade de juros favorece a atração de capital.
Além do fator externo, a moeda brasileira também recebeu um impulso doméstico. A bolsa de valores brasileira, o Ibovespa, subiu 1,66% no pregão, atingindo seu maior patamar em cerca de um mês. O bom humor no mercado de ações ajudou a atrair um maior fluxo de capital estrangeiro, o que também contribuiu para a valorização do real. Questões domésticas, como o impasse comercial entre Brasil e EUA, acabaram sendo deixadas de lado pelos investidores no dia.
Fonte: Google Finance
Ouro reage a fatores políticos em meio a cenário técnico desafiador
No mercado de commodities, a reação do ouro foi mais complexa. Inicialmente, o metal precioso chegou a cair após a divulgação dos dados mistos de inflação, atingindo uma mínima diária perto de US$ 3.331.
No entanto, o ouro reverteu as perdas e subiu, sendo negociado na faixa de US$ 3.348, apoiado não apenas pela fraqueza do dólar, mas também por acontecimentos na política americana que aumentaram a procura por ativos de segurança.
A recuperação do ouro foi impulsionada por declarações do presidente Donald Trump, que ameaçou a independência do Fed e criticou o chair Jerome Powell por demorar a cortar os juros.
Além disso, comentários de EJ Antoni, economista nomeado por Trump para chefiar o Bureau of Labor Statistics (BLS), que sugeriu a suspensão da divulgação mensal de dados do mercado de trabalho (Nonfarm Payrolls), também contribuíram para a volatilidade e para a busca por proteção no metal.
Gráfico diário do par Ouro/Dólar.
Fonte: TradingView.
Em meio a esses ruídos políticos, uma série de oficiais do Fed se pronunciaram ao longo do dia.
Thomas Barkin, do Fed de Richmond, afirmou que a política monetária está bem posicionada, mas que o banco central enfrentará pressões tanto na inflação quanto no desemprego. Jeffrey Schmid, do Fed de Kansas City, adotou um tom mais restritivo, dizendo que manter uma política "modestamente restritiva" é apropriado no momento e que apoia uma abordagem paciente em relação aos juros.
Já Stephen Miran, nomeado por Trump para o conselho do Fed, afirmou que a independência do banco central é de "importância primordial", mas acrescentou que a inflação tem se comportado bem, especialmente desde que o presidente assumiu o cargo.
Do ponto de vista técnico, o ouro enfrenta uma resistência imediata e importante na área entre US$ 3.349 e US$ 3.356, onde se encontram suas médias móveis de 20 e 50 dias. Para que os compradores ganhem força, é necessário superar essa faixa.
Caso consigam, o próximo alvo de interesse seria a região de US$ 3.380. A semana ainda reserva a divulgação do índice de preços ao produtor (PPI), os pedidos de auxílio-desemprego, os dados de vendas no varejo e o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan. Esses números serão cruciais para confirmar ou reverter as expectativas de corte de juros em setembro.
Preço do petróleo recua com projeção de aumento na produção dos EUA
O preço do petróleo tipo WTI também recuou nesta terça-feira, caindo para cerca de US$ 62,60 o barril. A queda foi uma reação direta às novas projeções da Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA), que ajustou sua previsão de produção de petróleo americano para cima para o restante de 2025 e para o ano de 2026.
Segundo o relatório de curto prazo da EIA, a expectativa é que a produção de petróleo nos EUA atinja um recorde histórico de quase 13,6 milhões de barris por dia até o final de dezembro de 2025. Esse aumento contínuo na produção americana, combinado com um esperado alívio nas restrições de cotas de produção dos países da OPEP+, deve levar a um aumento nos estoques globais.
Fonte: EIA
A EIA projeta que os estoques mundiais de petróleo cresçam, em média, 2 milhões de barris por dia até o primeiro trimestre de 2026, o que deve pressionar os preços para baixo, com uma previsão de que o barril do tipo Brent recue para US$ 50,00 no início de 2026. Esse cenário de excesso de oferta é visto como o principal fator que pode desacelerar o ritmo de perfuração de poços nos EUA no próximo ano.
Essa dinâmica de mercado ocorre em um cenário geopolítico onde o presidente Donald Trump busca ativamente um papel de mediador para um cessar-fogo no conflito entre Rússia e Ucrânia, que já se estende por mais de 1.200 dias.
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