Raízen (RAIZ4) vende duas usinas por R$ 1,54 bilhão para reduzir dívida; ações disparam mais de 10%

A Raízen (RAIZ4), maior processadora de cana-de-açúcar do mundo, anunciou um acordo nesta sexta-feira (29/08) para vender as usinas Rio Brilhante e Passa Tempo, ambas em Mato Grosso do Sul, por um valor total de R$ 1,54 bilhão.
A compradora é a Cocal Agroindústria. O mercado reagiu de forma muito positiva à notícia, com as ações da companhia chegando a disparar mais de 11% durante o pregão.
Fonte: Google Finance
O movimento é mais um passo importante no processo de desinvestimento da Raízen, que busca reduzir seu elevado endividamento.
A venda, que ainda precisa de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), representa uma continuação da estratégia da empresa de otimizar seu portfólio de ativos e ajustar sua capacidade de produção à sua moagem efetiva.
Os detalhes do acordo e o objetivo de reduzir o endividamento
O valor total do acordo, de R$ 1,54 bilhão, é composto por R$ 1,325 bilhão pelos ativos em si e cerca de R$ 218 milhões que são relativos a investimentos em manutenção de entressafra deste ano, custos que serão integralmente assumidos pela compradora.
Segundo o comunicado da Raízen, o pagamento será realizado à vista na data de conclusão da operação.
A principal motivação para a venda é a necessidade de a empresa reduzir sua alavancagem financeira. Ao divulgar os resultados do primeiro trimestre da safra 2025/26, no início do mês, a Raízen reportou um prejuízo de R$ 1,8 bilhão e informou que sua dívida líquida havia saltado para R$ 49,2 bilhões.
O desinvestimento das duas usinas é, portanto, uma medida direta para fortalecer o balanço da companhia.
O ajuste de escala: o contexto histórico da expansão e retração
A venda das usinas Rio Brilhante e Passa Tempo faz parte de um processo mais amplo de ajuste de escala da Raízen. A companhia atingiu um gigantismo no setor após a aquisição da Biosev, que pertencia à Louis Dreyfus, em 2021.
Essa transação adicionou cerca de 32 milhões de toneladas à capacidade de moagem da Raízen, que chegou a operar com uma capacidade próxima de 100 milhões de toneladas, distribuídas em 35 usinas.
No entanto, desde o final do ano passado, a empresa iniciou um processo de racionalização de seu parque industrial. Com a venda anunciada nesta sexta-feira, a Raízen já reduziu em cinco o número de suas unidades ativas, através de outras duas alienações e da hibernação da usina Santa Elisa, cuja cana passou a ser comercializada para terceiros em julho.
A estratégia, segundo fontes com conhecimento do assunto, é focar na eficiência, chegando à conclusão de que, em alguns casos, fazia mais sentido que a cana de uma área fosse processada por uma usina vizinha mais eficiente do que pela própria Raízen.
Impacto na capacidade de produção e alinhamento com a safra atual
As duas usinas vendidas para a Cocal possuem uma capacidade instalada de processamento de aproximadamente 6 milhões de toneladas de cana por safra. Com essa e as outras reduções, a capacidade de moagem total da Raízen foi ajustada para cerca de 75 milhões de toneladas por safra, o que representa 12% do processamento efetivo de toda a região centro-sul do Brasil na safra passada.
Esse novo patamar de capacidade está agora muito mais alinhado com a moagem efetiva que a própria Raízen projeta para a safra atual (2025/26).
A companhia já havia informado ao mercado que sua moagem na temporada deveria ficar na parte "média para baixa" da sua projeção, que vai de 72 milhões a 75 milhões de toneladas.
Esse volume já representa uma queda em relação às 78,2 milhões de toneladas processadas na safra anterior, que por sua vez já havia sido menor que as 84,2 milhões de toneladas de 2023/24.
A visão de futuro e a estratégia da companhia
Em seu comunicado, a Raízen afirmou que "essa transação está alinhada à estratégia da companhia de otimização do portfólio de ativos, simplificação das operações e captura de eficiências, com foco na melhoria da rentabilidade".
A empresa não comentou se o processo de desinvestimento de usinas vai continuar, mas executivos já haviam dito anteriormente que a ideia é que a Raízen siga com uma "escala relevante" no setor, mesmo com o foco na redução da dívida.
A companhia também reforçou que entende que os fundamentos do mercado de açúcar e etanol continuam sólidos. A visão positiva é sustentada pelo recente aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, que passou de 27% para 30% no Brasil, e pela posição competitiva do país como o produtor de açúcar com o menor custo do mundo.
A forte alta das ações da Raízen contribuiu para o dia positivo da bolsa brasileira, que encerrou a sexta-feira e o mês de agosto com novos recordes, descolando-se do humor mais cauteloso visto em Wall Street.
Ibovespa fecha em novo recorde e encerra agosto com melhor desempenho em um ano
O Ibovespa encerrou a sexta-feira com mais um recorde histórico de fechamento, subindo 0,26%, aos 141.422,26 pontos. Durante a manhã, o índice também renovou sua máxima histórica intradiária, atingindo 142.378,69 pontos.
O dia positivo coroou uma semana de alta de 2,50%, a quarta consecutiva de ganhos. Com o fechamento do último pregão de agosto, o mês terminou com uma valorização de 6,28%, o melhor desempenho mensal desde agosto de 2024. No acumulado de 2025, o Ibovespa sobe 17,57%.
Fonte: Google Finance
O bom humor na bolsa brasileira, no entanto, não se transferiu para o mercado de câmbio, onde o dólar comercial subiu 0,29%, para R$ 5,422. As taxas de juros futuros (DIs) também terminaram em alta. O otimismo local contrastou com o dia negativo em Nova York, onde os principais índices fecharam em queda.
A cautela em Wall Street foi uma reação aos dados de inflação dos Estados Unidos. O índice de preços de consumo pessoal (PCE), o preferido do Federal Reserve, veio em linha com as expectativas do mercado, mas o patamar da inflação ainda é considerado elevado e distante da meta de 2%, o que diminuiu o ânimo dos investidores.
O movimento de venda também foi influenciado pela proximidade do feriado do Dia do Trabalho (Labor Day) nos EUA, na segunda-feira. Apesar dos dados, a projeção da maioria dos analistas é de que o Fed ainda realize um corte de juros em setembro, com o foco se voltando agora para os próximos dados do mercado de trabalho.
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