Ibovespa desaba 2,42% com Copom "duro", exterior e risco eleitoral impulsionando o dólar

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O Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira com um recuo expressivo, cedendo 2,42% e voltando ao patamar dos 158.557 pontos. A sessão foi marcada por uma "tempestade perfeita" de aversão ao risco, onde o índice local sofreu com a confluência de um cenário externo desafiador e ruídos domésticos que deterioraram a percepção fiscal.

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A mínima do dia reflete um ajuste severo nas posições dos investidores, que optaram por realizar lucros e aumentar a liquidez diante das incertezas. O movimento de venda foi generalizado, atingindo setores-chave da economia e ignorando suportes técnicos importantes que vinham sendo defendidos nas últimas semanas.

Leitura conservadora do banco central

A digestão da Ata do Copom foi o primeiro driver negativo do dia. Embora o documento tenha soado marginalmente mais suave que o comunicado oficial da semana passada, a manutenção da Selic em 15% continua impondo um custo de capital proibitivo para a renda variável.

O mercado tentou encontrar brechas no texto para precificar um corte de juros já em janeiro, mas a autoridade monetária frustrou essas expectativas. A sinalização clara é de que a guarda não será baixada enquanto a ancoragem das expectativas de inflação não for total, independentemente do arrefecimento da atividade econômica.

Essa postura "hawkish" (dura) do Banco Central obriga os analistas a revisarem seus modelos de valuation. Com juros reais elevados por mais tempo, o desconto dos fluxos de caixa futuros das empresas aumenta, pressionando naturalmente o preço justo das ações para baixo.

O peso do cenário externo e dados de emprego

No front internacional, Wall Street adicionou volatilidade à equação doméstica. A divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos acima do esperado gerou um paradoxo: a economia forte sugere que o Federal Reserve pode não ter pressa em cortar os juros.

A resiliência do mercado de trabalho americano coloca em xeque a continuidade do ciclo de afrouxamento monetário iniciado recentemente. Se a maior economia do mundo não desacelera conforme o previsto, o custo de oportunidade do dólar permanece alto, drenando recursos de mercados emergentes e pressionando moedas como o Real.

Embora o Nasdaq tenha mostrado alguma resiliência, o sentimento global foi de cautela. Na Europa, as bolsas também recuaram, evidenciando que a aversão ao risco não foi um privilégio do mercado brasileiro, embora aqui a intensidade tenha sido amplificada por fatores idiossincráticos.

Risco fiscal e o fator político

O componente político atuou como o catalisador final para a deterioração do humor. A nova pesquisa eleitoral, apontando vantagem do atual governo em cenários para 2026, reacendeu o prêmio de risco fiscal na curva de juros futura.

A leitura institucional é pragmática: a consolidação de um cenário favorável à reeleição, combinada com uma pauta focada em gastos sociais em detrimento da austeridade, sugere pouca margem para ajustes fiscais estruturais no médio prazo.

O mercado financeiro tende a antecipar ciclos políticos com anos de antecedência. A percepção de que a pauta econômica pode ficar em segundo plano diante das demandas sociais aumentou a exigência de prêmio para carregar ativos brasileiros, resultando na venda massiva de papéis ligados à economia doméstica.

Commodities e setor bancário

Na ponta corporativa, a Petrobras (PETR4) atuou como uma âncora pesada, recuando mais de 3% em meio à desvalorização do petróleo global e greves locais que ameaçam a produção. O cenário para a estatal combina riscos de governança com um ciclo de baixa na commodity.

O setor bancário, que possui grande peso no índice, seguiu o fluxo vendedor em bloco. Instituições como Itaú, Bradesco e Santander registraram perdas significativas, refletindo o temor de que juros altos por mais tempo possam elevar a inadimplência e comprimir as margens de crédito.

Na contramão do pessimismo, a Vale (VALE3) conseguiu sustentar uma leve alta, beneficiada pela dinâmica positiva do minério de ferro. O movimento reforça o papel da mineradora como um hedge pontual e dolarizado em dias de estresse doméstico acentuado, descolando-se do risco Brasil.

Dólar sobe na contramão do exterior

Em um dia de enfraquecimento global da moeda norte-americana, o Real seguiu caminho oposto. O dólar à vista avançou 0,78%, para R$ 5,4640, evidenciando um descolamento claro em relação ao ambiente internacional.

O movimento refletiu fatores domésticos predominantes. A combinação de incerteza fiscal, ruído político e saída sazonal de recursos para remessas de lucros e dividendos elevou a demanda por proteção cambial, sobrepondo-se ao cenário externo mais benigno.

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Fonte: Google Finance

Nos derivativos, a leitura foi ainda mais defensiva. O contrato futuro de dólar para janeiro, referência de liquidez na B3, subiu 0,88%, a R$ 5,4800, indicando que gestores e tesourarias priorizaram hedge diante do aumento do prêmio de risco local.

Apesar da pressão pontual, o desempenho acumulado no ano ainda é favorável: o Real registra valorização de 11,57% em 2025. A sessão, no entanto, funcionou como alerta de que a volatilidade pode retornar rapidamente quando o risco fiscal entra no radar.

Carry trade sob pressão após a Ata do Copom

A reação do câmbio à Ata do Copom expôs o dilema do carry trade. Em tese, a Selic em 15% mantém o diferencial de juros elevado e atrativo ao capital estrangeiro. Na prática, a percepção de risco político e fiscal reduziu a disposição para explorar essa arbitragem.

Com o retorno elevado confrontado por incertezas institucionais e fiscais — intensificadas pelas pesquisas eleitorais —, a equação risco-retorno torna-se menos favorável ao Real no curto prazo.

A Ata reforçou ainda que cortes de juros dependem de uma convergência inflacionária inequívoca. Para Lauro Sawamura Kubo, da Patagônia Capital, isso empurra o início do afrouxamento monetário para o fim do primeiro trimestre ou início do segundo, prolongando o ambiente de liquidez restrita.

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