Ibovespa desaba 2,42% com Copom "duro", exterior e risco eleitoral impulsionando o dólar
- Bitcoin segura US$ 90 mil e Ethereum desaba 7%; trader alerta que 'bull run acabou' e prevê BTC a US$ 50 mil
- O ouro mantém-se estável acima dos US$ 4.200, enquanto os operadores aguardam ansiosamente a decisão do FOMC sobre as taxas de juros
- O ouro recua da máxima semanal, com o dólar americano a recuperar ligeiramente após a queda pós-FOMC
- O ouro recua da máxima de várias semanas em meio ao apetite por risco; a queda parece limitada
- Previsão do Preço do Ouro: XAU/USD avança levemente acima de US$ 4.300 com apostas em cortes de juros pelo Fed
- O Ethereum ultrapassa os US$ 3.300 com a entrada massiva de grandes investidores e a Bitmine recebe mais US$ 1 bilhão em aportes.

O Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira com um recuo expressivo, cedendo 2,42% e voltando ao patamar dos 158.557 pontos. A sessão foi marcada por uma "tempestade perfeita" de aversão ao risco, onde o índice local sofreu com a confluência de um cenário externo desafiador e ruídos domésticos que deterioraram a percepção fiscal.
Fonte: Google Finance
A mínima do dia reflete um ajuste severo nas posições dos investidores, que optaram por realizar lucros e aumentar a liquidez diante das incertezas. O movimento de venda foi generalizado, atingindo setores-chave da economia e ignorando suportes técnicos importantes que vinham sendo defendidos nas últimas semanas.
Leitura conservadora do banco central
A digestão da Ata do Copom foi o primeiro driver negativo do dia. Embora o documento tenha soado marginalmente mais suave que o comunicado oficial da semana passada, a manutenção da Selic em 15% continua impondo um custo de capital proibitivo para a renda variável.
O mercado tentou encontrar brechas no texto para precificar um corte de juros já em janeiro, mas a autoridade monetária frustrou essas expectativas. A sinalização clara é de que a guarda não será baixada enquanto a ancoragem das expectativas de inflação não for total, independentemente do arrefecimento da atividade econômica.
Essa postura "hawkish" (dura) do Banco Central obriga os analistas a revisarem seus modelos de valuation. Com juros reais elevados por mais tempo, o desconto dos fluxos de caixa futuros das empresas aumenta, pressionando naturalmente o preço justo das ações para baixo.
O peso do cenário externo e dados de emprego
No front internacional, Wall Street adicionou volatilidade à equação doméstica. A divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos acima do esperado gerou um paradoxo: a economia forte sugere que o Federal Reserve pode não ter pressa em cortar os juros.
A resiliência do mercado de trabalho americano coloca em xeque a continuidade do ciclo de afrouxamento monetário iniciado recentemente. Se a maior economia do mundo não desacelera conforme o previsto, o custo de oportunidade do dólar permanece alto, drenando recursos de mercados emergentes e pressionando moedas como o Real.
Embora o Nasdaq tenha mostrado alguma resiliência, o sentimento global foi de cautela. Na Europa, as bolsas também recuaram, evidenciando que a aversão ao risco não foi um privilégio do mercado brasileiro, embora aqui a intensidade tenha sido amplificada por fatores idiossincráticos.
Risco fiscal e o fator político
O componente político atuou como o catalisador final para a deterioração do humor. A nova pesquisa eleitoral, apontando vantagem do atual governo em cenários para 2026, reacendeu o prêmio de risco fiscal na curva de juros futura.
A leitura institucional é pragmática: a consolidação de um cenário favorável à reeleição, combinada com uma pauta focada em gastos sociais em detrimento da austeridade, sugere pouca margem para ajustes fiscais estruturais no médio prazo.
O mercado financeiro tende a antecipar ciclos políticos com anos de antecedência. A percepção de que a pauta econômica pode ficar em segundo plano diante das demandas sociais aumentou a exigência de prêmio para carregar ativos brasileiros, resultando na venda massiva de papéis ligados à economia doméstica.
Commodities e setor bancário
Na ponta corporativa, a Petrobras (PETR4) atuou como uma âncora pesada, recuando mais de 3% em meio à desvalorização do petróleo global e greves locais que ameaçam a produção. O cenário para a estatal combina riscos de governança com um ciclo de baixa na commodity.
O setor bancário, que possui grande peso no índice, seguiu o fluxo vendedor em bloco. Instituições como Itaú, Bradesco e Santander registraram perdas significativas, refletindo o temor de que juros altos por mais tempo possam elevar a inadimplência e comprimir as margens de crédito.
Na contramão do pessimismo, a Vale (VALE3) conseguiu sustentar uma leve alta, beneficiada pela dinâmica positiva do minério de ferro. O movimento reforça o papel da mineradora como um hedge pontual e dolarizado em dias de estresse doméstico acentuado, descolando-se do risco Brasil.
Dólar sobe na contramão do exterior
Em um dia de enfraquecimento global da moeda norte-americana, o Real seguiu caminho oposto. O dólar à vista avançou 0,78%, para R$ 5,4640, evidenciando um descolamento claro em relação ao ambiente internacional.
O movimento refletiu fatores domésticos predominantes. A combinação de incerteza fiscal, ruído político e saída sazonal de recursos para remessas de lucros e dividendos elevou a demanda por proteção cambial, sobrepondo-se ao cenário externo mais benigno.
Fonte: Google Finance
Nos derivativos, a leitura foi ainda mais defensiva. O contrato futuro de dólar para janeiro, referência de liquidez na B3, subiu 0,88%, a R$ 5,4800, indicando que gestores e tesourarias priorizaram hedge diante do aumento do prêmio de risco local.
Apesar da pressão pontual, o desempenho acumulado no ano ainda é favorável: o Real registra valorização de 11,57% em 2025. A sessão, no entanto, funcionou como alerta de que a volatilidade pode retornar rapidamente quando o risco fiscal entra no radar.
Carry trade sob pressão após a Ata do Copom
A reação do câmbio à Ata do Copom expôs o dilema do carry trade. Em tese, a Selic em 15% mantém o diferencial de juros elevado e atrativo ao capital estrangeiro. Na prática, a percepção de risco político e fiscal reduziu a disposição para explorar essa arbitragem.
Com o retorno elevado confrontado por incertezas institucionais e fiscais — intensificadas pelas pesquisas eleitorais —, a equação risco-retorno torna-se menos favorável ao Real no curto prazo.
A Ata reforçou ainda que cortes de juros dependem de uma convergência inflacionária inequívoca. Para Lauro Sawamura Kubo, da Patagônia Capital, isso empurra o início do afrouxamento monetário para o fim do primeiro trimestre ou início do segundo, prolongando o ambiente de liquidez restrita.
Leia mais
Isenção de responsabilidade: este artigo representa apenas a opinião do autor e não pode ser usado como consultoria de investimento. O conteúdo do artigo é apenas para referência. Os leitores não devem tomar este artigo como base para investimento. Antes de tomar qualquer decisão de investimento, procure orientação profissional independente para garantir que você entenda os riscos.
Os Contratos por Diferença (CFDs) são produtos alavancados que podem resultar na perda de todo o seu capital. Esses produtos não são adequados para todos os clientes; por favor, invista com rigor. Consulte este arquivo para obter mais informações.




