Ações do GPA (PCAR3) disparam com Família Diniz se tornando maior acionista e pedindo troca do conselho

As ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) operam em forte alta nesta segunda-feira (25/08), chegando a disparar mais de 10% e liderando os ganhos do Ibovespa. A reação do mercado ocorre após a notícia de que a família Coelho Diniz, dona de uma rede de supermercados em Minas Gerais, aumentou sua participação na companhia para 24,6%, tornando-se a maior acionista individual da varejista.

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Junto com o aumento da participação, a família Diniz protocolou no último sábado (23/08) um pedido formal para a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE).

O objetivo é a destituição integral do atual Conselho de Administração e a eleição de novos membros, em um movimento que, segundo eles, busca alinhar a governança da empresa à sua nova realidade acionária. A expectativa do mercado é que uma nova gestão possa implementar uma forte redução de custos na companhia, que acumula 17 trimestres consecutivos de prejuízos.

A disputa pelo controle e a cláusula de 'poison pill'

Com a aquisição das novas ações, a família Coelho Diniz, representada no conselho por André Coelho Diniz, ultrapassou o grupo francês Casino, antigo controlador do GPA, que agora detém 22,5% do capital.

A família mineira vem aumentando sua posição de forma gradual desde fevereiro deste ano, quando adquiriu seus primeiros 5% da companhia.

Esse avanço, no entanto, está próximo de um limite estratégico. A participação de 24,6% deixa a família muito perto do gatilho de 25% previsto na cláusula de "poison pill" (pílula de veneno) do estatuto do GPA.

Esse mecanismo de defesa impede que um acionista ou grupo ultrapasse esse percentual sem ser obrigado a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) por todas as ações da empresa em circulação, geralmente pagando um prêmio aos demais acionistas.

O conflito por trás da mudança: custos e governança

A justificativa oficial para o pedido de troca do conselho é a busca por um maior alinhamento entre a estrutura acionária e a representatividade na gestão. No entanto, o movimento ocorre em meio a disputas internas relacionadas aos altos custos da companhia.

Fontes de mercado apontam que a gestão anterior, ligada ao Casino, deixou um "legado de despesas altíssimas e de mordomias para conselheiros e executivos".

Um exemplo recente desse conflito foi um embate sobre a remuneração dos conselheiros. Em julho, membros ligados à família Coelho Diniz e a outros investidores se posicionaram contra os valores propostos, chegando a pedir a suspensão dos pagamentos e a criação de um programa de remuneração em ações, atrelado à performance da companhia.

O caso gerou uma reclamação formal à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A expectativa é que um novo conselho, com maior influência da família Diniz, tenha como uma de suas principais prioridades a redução de custos e de despesas de capital (capex).

As expectativas para a nova gestão e a estratégia de negócios

Apesar da disputa pelo controle, a expectativa é que o modelo de negócio atual do GPA, focado no chamado "formato de proximidade", seja mantido. Fontes familiarizadas com o assunto afirmam que não há discussões sobre uma mudança nessa frente.

A estratégia, que foi a maior aposta da companhia nos últimos anos, pode até ser aprimorada, com um foco maior no e-commerce e na transformação das lojas em pequenos centros de distribuição para entregas de "last-mile".

A visão de parte do mercado é que a mudança no conselho pode finalmente destravar o potencial da companhia. Segundo uma analista do setor, a nova composição pode abrir espaço para que os representantes "busquem os resultados que a empresa pode entregar", com foco na rentabilidade e em uma eventual redução da alavancagem financeira.

A visão dos analistas e a volatilidade esperada

As casas de análise, no geral, veem o movimento como positivo no longo prazo, mas alertam para a incerteza e a volatilidade no curto prazo, até que a nova composição do conselho seja definida.

Uma gestora manteve sua recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 3,50, afirmando que, embora a mudança possa trazer mais estabilidade e foco, o período de transição gera riscos.

Fonte: Google Finance

Outro banco de investimentos, que mantém uma recomendação equivalente à venda, projeta uma maior volatilidade para as ações do GPA no período que antecede a assembleia.

A análise aponta para a complexidade da governança da empresa e para renúncias recentes de membros do conselho fiscal, que citaram falta de informações e desalinhamento de interesses.

Eles também destacam que o alto nível de "short interest" nos papéis, com 25% das ações em circulação alugadas por investidores que apostam na queda, pode intensificar os movimentos de preço, à medida que diferentes grupos compram ações para garantir votos na assembleia. 

O principal ponto de atenção para a companhia, segundo essa análise, continua sendo sua alta alavancagem, atualmente em 5,2 vezes a dívida líquida ajustada sobre o Ebitda.