Ganhos de Donald Trump com criptoativos superam US$ 2,4 bilhões

Estimativas da revista The New Yorker indicam que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acumulou ganhos de aproximadamente US$ 2,4 bilhões em empreendimentos ligados à criptomoedas desde 2022.

O valor, que representa 43,5% do patrimônio pessoal que ele teria construído durante sua carreira política, acendeu um intenso debate sobre os limites éticos e legais para os negócios privados de um chefe de Estado.

Enquanto os ganhos mostram uma nova e lucrativa fonte de renda para a família Trump, eles também levantam questionamentos sobre potenciais conflitos de interesse, uma vez que o presidente supervisiona diretamente a regulamentação de uma indústria na qual agora possui uma exposição financeira substancial.

Ganhos pessoais estimados do Presidente Trump durante sua carreira política. 

Fonte: The New Yorker.

A situação atual contrasta com a postura adotada por Trump em seu primeiro mandato. Em uma coletiva de imprensa em janeiro de 2017, ele mencionou que, embora a presidência tivesse uma "provisão de não conflito de interesse", ele havia recusado uma oferta de US$ 2 bilhões para um negócio em Dubai para evitar questionamentos sobre sua conduta.

Na época, seus advogados afirmaram que a família não faria nada que pudesse "ser percebido como exploração do cargo da Presidência". Essa postura de contenção parece ter sido abandonada em seu segundo mandato.

A origem dos ganhos e a mudança de postura

A maior parte dos ganhos estimados, cerca de US$ 1,3 bilhão, vem da Trump Media and Technology Group, que funciona como uma empresa com tesouraria em Bitcoin (BTC).

Outras fontes de receita incluem US$ 412,5 milhões de vendas de tokens via World Liberty Financial, US$ 385 milhões da memecoin oficial TRUMP, US$ 243 milhões de acordos relacionados a criptoativos com os Emirados Árabes Unidos, US$ 14,4 milhões de coleções de tokens não fungíveis (NFTs) e US$ 13 milhões de uma participação na empresa de mineração American Bitcoin.

É importante notar que, embora os empreendimentos estejam ligados a Trump, as operações são frequentemente gerenciadas por conselheiros ou familiares, não refletindo necessariamente seu envolvimento direto.

Essa profunda conexão financeira com a indústria representa uma mudança notável em relação à sua visão anterior. Em 2019, Trump criticou publicamente as criptomoedas, citando a volatilidade de preços e o potencial de uso em atividades ilegais. Hoje, no entanto, não só seus negócios se beneficiam do setor, como a própria administração tem adotado uma postura mais favorável à indústria.

Questionamentos sobre ética e a reação política

A exposição financeira de Trump ao mercado de criptoativos tem sido o principal foco das críticas de parlamentares do Partido Democrata, que apontam para sérios conflitos de interesse.

Eles já haviam realizado protestos e pedido investigações sobre a memecoin do presidente e a stablecoin USD1, embora um processo de impeachment seja considerado improvável em um legislativo controlado pelos Republicanos.

A preocupação se intensificou após Trump anunciar um jantar em Washington para os maiores detentores de sua memecoin. Em resposta, dois senadores democratas alertaram que a oferta de tal acesso ao presidente poderia violar diversas leis federais de ética. Segundo eles, a situação poderia infringir o estatuto federal de suborno e as cláusulas de emolumentos da Constituição dos EUA, que proíbem o presidente de receber pagamentos ou presentes que possam ser interpretados como uma forma de comprar influência.

Os senadores afirmaram que a situação "levanta a perspectiva preocupante de que atores estrangeiros estejam usando a memecoin como um vetor para comprar influência com o presidente Trump e seus associados sem a necessidade de revelar publicamente suas identidades".

O novo ambiente regulatório e seus efeitos no mercado

Junto ao debate político, a postura do governo em relação à indústria de criptoativos mudou visivelmente. A Comissão de Valores Mobiliários (SEC), por exemplo, abandonou investigações ou ações de fiscalização que estavam pendentes contra grandes empresas do setor, como a Coinbase e a Uniswap.

Além disso, a administração tem se esforçado para acabar com a prática de "debanking", na qual bancos comerciais negam serviços a empresas de criptomoedas.

Talvez a ação regulatória mais impactante tenha sido a sanção da lei GENIUS Act, assinada por Trump, que criou o primeiro quadro legal para a emissão de stablecoins nos Estados Unidos. Essa nova clareza regulatória para um dos setores mais importantes do mercado de criptoativos é vista por analistas como um dos fatores que têm contribuído para o aumento da confiança de investidores institucionais.

Nesse contexto de maior segurança jurídica, o mercado de ativos digitais tem visto um aumento no interesse de grandes investidores. Um exemplo é o recente fluxo de capital para os fundos de índice (ETFs) de Ethereum (ETH) à vista.

Na segunda-feira, esses fundos registraram uma entrada recorde de mais de US$ 1 bilhão em um único dia, com o ETF da BlackRock sendo o principal destino do capital. O total de ativos sob gestão nesses produtos já ultrapassa US$ 10 bilhões. 

O preço do Ether reagiu positivamente, subindo mais de 50% nos últimos 30 dias e se aproximando de sua máxima histórica.

Analistas como Eric Balchunas, da Bloomberg Intelligence, e Tom Lee, da Fundstrat, creditam parte desse movimento à nova narrativa em torno do Ethereum, que passou a ser mais compreendida pelos investidores graças ao seu principal caso de uso: a emissão de stablecoins, justamente o segmento que recebeu maior clareza regulatória da administração atual.