A Berkshire Hathaway surpreendeu os mercados na última sexta-feira, quando seu relatório de ações do terceiro trimestre revelou uma nova e enorme posição na Alphabet. O choque veio porque a compra, de mais de 17,8 milhões de ações Classe A no valor de US$ 4,9 bilhões, não feita por Warren Buffett, de acordo com os detalhes do relatório e o momento da transação.
As ações da Alphabet subiram 3,5% após o fechamento do mercado, quando os números foram divulgados, enquanto os investidores tentavam descobrir quem em Omaha tomou a decisão e por que a aposta no setor de tecnologia apareceu agora, especialmente porque o relatório foi publicado logo após o fechamento do pregão, de acordo com o documento divulgado pela Berkshire.
A empresa nunca havia adquirido a Alphabet nesse porte antes, e a Alphabet já valorizou 51,3% este ano, incluindo 37% no trimestre em que a compra foi feita. Só isso já levantou dúvidas sobre se Warren, que sempre evitou empresas de tecnologia fora da Apple, estava de fato envolvido na transação.
Ele já afirmou diversas vezes que vê a Apple como uma marca de produtos de consumo, não como uma empresa de tecnologia, e que a Alphabet nunca foi o seu estilo. Os números também confirmam que essa foi a maior aquisição em dólares da carteira da Berkshire no terceiro trimestre.
A aquisição da Alphabet rompe com a forma como Warren costuma investir, e é por isso que executivos próximos a ele estão sendo considerados. A reunião da Berkshire em 2019 deu indícios de por que Warren provavelmente não era o escolhido.
Nessa reunião, Warren Buffett disse que ele e Charlie Munger "cometeram um erro" ao não comprarem a Alphabet anos antes, acrescentando que "ficaram de braços cruzados", mesmo sabendo que a Berkshire Hathaway podia ver o bom desempenho dos anúncios do Google dentro de suas empresas.
Naquele dia, as ações da Alphabet estavam cotadas em torno de US$ 59, e nem Warren nem Charlie disseram nada que sugerisse que planejavam agir em relação a esse erro.
Greg Abel, que assumirá o cargo de CEO no próximo ano, não está preso àquela antiga hesitação. Warren já transferiu muitas de suas responsabilidades para Greg, e Greg não carrega o peso de oportunidades perdidas no passado.
A compra também poderia ter vindo dos gestores de investimento da Berkshire, Ted Weschler ou Todd Combs, que administraram diversas posições voltadas para o setor de tecnologia ao longo dos anos.
O documento também confirma que a Alphabet foi a maior aquisição do terceiro trimestre, mesmo considerando seu preço de 30 de setembro, de US$ 4,3 bilhões, muito acima do aumento de US$ 1,2 bilhão nas ações da Chubb.
O mesmo documento mostra que a Berkshire reduziu suas participações na Apple em 15%, retirando US$ 10,6 bilhões em ações e ficando com 238 milhões. A participação da Berkshire na Apple já foi reduzida em 74% desde que começou a se desfazer das ações há dois anos.
Ainda assim, a Apple continua sendo a maior participação acionária da empresa, agora avaliada em US$ 64,9 bilhões, ou 21% do portfólio.
A participação da Berkshire Hathaway nas ações do Bank of America foi reduzida em 6,1%, ou cerca de US$ 1,9 bilhão, restando 568 milhões de ações avaliadas em US$ 29,9 bilhões. Essa posição acumula uma redução de 43% desde o início do ano passado. A Berkshire também continuou reduzindo sua participação na Verisign, conforme divulgado inicialmente no início de agosto.
Além das mudanças em seu portfólio, Warren divulgou sua carta de Ação de Graças na segunda-feira, que gerou grande repercussão porque ele escreveu: "Vou 'ficar quieto'". Mas, em seguida, acrescentou um parágrafo dizendo: "Mais ou menos".
Ele disse que Greg Abel, a quem Warren descreveu como “um ótimo gestor, um trabalhador incansável e um comunicador honesto”, assumirá a responsabilidade de escrever aos acionistas no próximo ano e responderá às perguntas na assembleia anual, enquanto Warren se sentará com os diretores no plenário. Ele acrescentou que continuará “a falar com vocês e com meus filhos sobre a Berkshire por meio da minha mensagem anual de Ação de Graças”.
Sua carta deste ano teve mais de sete páginas, mais que o dobro da do ano passado. Ele escreveu sobre idade, sorte, amigos de Omaha e sua crença na capacidade de Greg de administrar a empresa.
Ele também compartilhou uma história de sua internação hospitalar na infância, dizendo que coletou impressões digitais das freiras que cuidavam dele porque “algum dia uma freira se desviaria do caminho, e o FBI descobriria que elas haviam se esquecido de coletar suas impressões digitais”.
A carta também confirmou que ele aumentará as doações para as fundações administradas por seus três filhos, que agora têm 72, 70 e 67 anos, e que deseja que eles administrem seu patrimônio antes que outros curadores assumam o controle.
Cada fundação recebeu 400.000 ações Classe B, um aumento em relação às 300.000 do ano passado, e uma quarta fundação, que leva o nome de sua falecida esposa, recebeu o mesmo total do ano anterior. No total, as doações aumentaram 17%, chegando a US$ 1,3 bilhão. As ações Classe B subiram 4% desde as doações do ano passado.
A seção de portfólio termina com as principais participações da Berkshire nos EUA, Japão e Hong Kong em 30 de setembro de 2025, incluindo a Itochu em 17 de março de 2025 e a Mitsubishi em 28 de agosto de 2025, com os preços de Tóquio convertidos de ienes para dólares americanos.