A alta nos preços do ouro transformou Durban Deep, um antigo subúrbio mineiro decadente a oeste de Joanesburgo, em um campo de batalha caótico de escavações movidas pela fome, confrontos armados e movimentação incessante por terrenos abandonados.
A Bloomberg relata que quatro homens estão em um lago lamacento que antes servia como piscina de quintal e despejam a lama em uma toalha, na esperança de que grãos de ouro grudem tempo suficiente para que eles possam vendê-los.
O local onde trabalham costumava produzir mais de US$ 155 bilhões em minério de ferro antes do fechamento da mina em 2000, quando os preços mal ultrapassavam US$ 250 a onça. Agora, o preço está acima de US$ 4.000.
Só esse número já é suficiente para deixar milhares de garimpeiros ilegais arriscando suas vidas em ruínas, em lugares que antes eram repletos de famílias, jardins e salários estáveis.
Toda a área está devastada. Casas foram queimadas. O mato engole as ruas antigas. Gangues da África do Sul, Lesoto, Zimbábue e Moçambique lutam pelo acesso aos montes de lixo acumulados ao longo de um século.
Um dos homens no lago, um homem de 36 anos chamado Vuyo, diz que eles continuam trabalhando porque os preços mais altos compensam as longas horas. Vuyo lidera uma equipe que trabalha em depósitos de rejeitos, enquanto outros grupos entram em túneis onde a poeira sufoca o ar e a escuridão torna cada passo uma aposta.
A mineração artesanal é ilegal na África do Sul, embora seja permitida em muitos países em desenvolvimento. Os trabalhadores se autodenominam zama zamas. Eles usam cinzéis, joelheiras e pequenas lanternas para rastejar por passagens estreitas, onde até mesmo a polícia tem dificuldade em acompanhá-los.
Há um ano, policiais tentaram forçar um grupo a sair de um poço a 145 quilômetros de Joanesburgo, cortando o fornecimento de água e comida. Após dias sem suprimentos, quase 2.000 mineiros emergiram. Pelo menos 78 corpos em avançado estado de decomposição foram recuperados. Mais de 100 pessoas morreram.
Durban Deep está praticamente sem água. Famílias que viviam lá muito antes dessa corrida às águas foram expulsas. Restam apenas alguns moradores, em sua maioria idosos ou pessoas muito pobres ou doentes para partir.
Michelle Weedman, voluntária em um abrigo de animais próximo, diz que a escavação nunca para. Ela conta que até mesmo estradas construídas com rejeitos da mina estão sendo abertas em busca do ouro restante. Ela diz que a polícia chega, mas os garimpeiros se dispersam rapidamente. Ela acrescenta que alguns contam com apoio armado e que tiroteios são comuns à noite, enquanto os grupos disputam território.
Durban Deep já foi um símbolo da ascensão da mineração na África do Sul. Joanesburgo cresceu graças a esse metal na década de 1880. Um historiador chamado Duncan Money afirma que o local agora demonstra como o fechamento inadequado de minas deixa as comunidades vulneráveis à apropriação indevida.
A empresa que operava a mina, agora DRDGOLD, chegou a escavar poços de 2,7 quilômetros (1,7 milhas) na Bacia de Witwatersrand. Uma geóloga chamada Kgothatso Nhlengethwa, que estuda essa área há mais de uma década, afirma que a empresa poderia ter selado os poços de forma mais segura. Ela diz que os mineiros conseguem entrar com pouco esforço. A DRDGOLD alega que o declínio começou muito tempo depois de sua saída.
Em Gauteng, a extração ilegal de minerais se espalhou rapidamente. Um pesquisador chamado Gregory Mthembu-Salter afirma que o país pode perder até 51 toneladas por ano devido a essa atividade.
Ele afirma que grande parte desse ouro provavelmente acaba nos Emirados Árabes Unidos. As mineradoras legais da África do Sul vendem para refinarias ligadas a Londres, nenhuma delas localizada nos Emirados Árabes Unidos, embora o país tenha declarado mais de US$ 1 bilhão em importações da África do Sul em 2023. Um relatório publicado em 4 de novembro pela SWISSAID afirma que os Emirados Árabes Unidos continuam sendo um importante centro para ouro de origem duvidosa.
A SWISSAID estima que até 100 mil pessoas estejam realizando escavações ilegais em todo o país. Autoridades afirmam que as redes danificam linhas de energia, ferrovias e infraestrutura urbana. Trabalhadores como Vuyo dizem que a polícia geralmente os deixa em paz, exceto para aceitar pequenos subornos. Cada etapa do trabalho envolve riscos. Grupos entram em conflito entre si. Operações legais se confrontam com as ilegais.
Os trabalhadores começam por escavar o solo residual e encher sacos. Lavam-no e recolhem pequenos pedaços de ouro para vender em favelas próximas, como Matholesville, onde uma rua se chama literalmente Rua da Corrida do Ouro, e Braamfischerville, onde os garimpeiros passam por casas com lâmpadas ainda presas à cabeça. Kgothatso afirma que os trabalhadores nunca recebem o preço total.
Ainda assim, a duplicação do preço do ouro desde o final de 2023 significa que há dinheiro suficiente para manter todos os envolvidos. Vuyo diz que agora ganha cerca de 7.000 rands por mês.
Os mineiros estrangeiros também correm riscos porque não têm outras opções. Jealous Madyira, um zimbabuano de 46 anos, está em um riacho poluído e peneira o solo em busca de partículas.
Ele diz que a fome o obrigou a sair de seu país natal, onde o desemprego é grave e muitas pessoas emigraram. Ele afirma que o trabalho é árduo, mas precisa do salário para sobreviver.
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